Ao
priori nessa quarta parte da Obra de Marcel Mauss intitulada Sociologia e
Antropologia o autor nos trás a ideia de morte sugerida pela colectividade,
onde o mesmo apresenta três subtítulos: A definição da sugestão colectiva da
ideia de morte, tipos de factos Australianos e tipos de factos Neozelandeses e
Polinésios, todos com objectivo de explicar o processo da ideia da morte,
mostrando exemplos claros de alguns povos.
No que concerne aos tipos de factos neozelandeses e polinésios, o
autor demonstra descrições que são igualmente uma espécie de traço comum da
etnografia dos Maori e de toda Polinésia. Tregear cita casos notáveis: por
exemplo, o de um homem que viveu até uma idade avançada sem mandíbula, que lhe
fora arrancada por um obus em 1843.
Quanto
a ideia da morte os Maori classificam as causas das suas mortes em quatro
conjuntos: 1. Morte pelos espíritos (violência de tabu, magia, etc.); 2. Morte
na guerra; 3. Morte por decadência natural; 4. Morte por acidente ou suicido. E
eles atribuem a primeira dessas causas a maior importância. O sistema dessas
crenças é portanto o mesmo que na Austrália.
Embora o totemismo polinésio seja bastante humilde, sobretudo na
Nova Zelândia, ele deixou justamente traços como meio de representar certas
causas de morte. Por exemplo: Em Tonga, particularmente, Mariner conta que um
homem que comeu tartaruga proibida teve o fígado aumentado e morreu por causa
disso.
Mas é essencialmente a morte por pecado mortal que é frequente,
sobretudo em terra Maori. Quanto a esse assunto Hertz fez uma análise desses
mecanismos complicados e típicos, da qual extraiu duas indicações: a morte por magia que é muito
frequentemente concebida e geralmente só é possível em consequência de um
pecado prévio. Inversamente, a morte por
pecado não é geralmente senão o resultado de uma magia que fez pecar.
A NOÇÃO DE PESSOA
A
principal tese deixada por Mauss nesse ensaio é de que a noção de pessoa,
inclusive a noção do Eu não é uma categoria natural ou puramente psicológica,
individual, mas é antes de tudo uma construção sócio-histórica-cultural. Até
então concebiam a ideia de ‘pessoa’ e de ‘eu’ como uma noção natural ou
inerente “bem definida no fundo da sua própria consciência, perfeitamente
equipada no fundo da moral que dela se deduz. Trata-se de substituir essa visão
ingénua de sua história e de seu actual valor por uma visão mais precisa.”
(MAUSS, 2003, p. 369). Em A noção de pessoa, a de “eu” Marcel Mauss vai brilhantemente
demonstrar, mesmo que de forma resumida, a “história social das categorias do
espírito humano” (MAUSS, 2003, p. 370) ele vai aprimorar o discurso sobre o
‘eu’ e sobre o senso de consciência e pessoa que havia na época, dando à essa
discussão o carácter social e de construção colectiva.
Mauss
vai, como ele mesmo disse, fazer uma análise histórica e social da construção
da noção de ‘pessoa’ e da de ‘eu’. É importante notar que essa noção era até
então uma categoria puramente psicológica, fechada e naturalizada pelos
pensadores da época, o que se reflecte ainda hoje. Mauss começa então essa
análise desde os Pueblos, os índios Pueblos de Zuñi, estudados na época por
Frank Hamilton Cushing e por Mathilda Cox Stevenson, passando por outros povos
do Noroeste Americano e por povos da Austrália.
Para
Mauss, em todos esses povos, ressalvadas as devidas diferenças e
peculiaridades, a noção de pessoa estava intimamente ligada ao grupo, ao clã,
não existindo ainda a noção de pessoa individualizada, de ‘eu’ como entidade
única. Nesses povos, a partir de uma análise etnográfica e linguística, é
possível perceber como os indivíduos quase sempre eram referenciados pelo grupo
(clã) ou pela natureza (totem), possuindo inclusive nomes e prenomes
específicos do clã ao qual pertencia ou das narrativas que envolviam
determinados indivíduos. É interessante notar que essas construções de ‘eu’ de
‘pessoa’ eram marcadas por toda uma trajectória histórico e social, construída
a partir da tradição de cada povo e da forma como cada povo significava a ideia
de grupo e colectividade.