quinta-feira, 16 de junho de 2016

Antropologia Urbana e Metodo Etnografico



Resumo do caderno de Antropologia II


Resumo do caderno de Antropologia II

II – Escola estrutural-funcionalista britânica: antievolucionista, estudos sincrônicos, empírica, sistemas sociais e relação de poder
à Malinowski: Método etnográfico/observação participante
Funcionalismo utilizava o trabalho de campo como técnica, e criticava a antropologia precedente, princpalmente evolucionismo e difusionismo (criticados pelos funcionalistas pela arbitrariedade das categorias criadas, que geravam a fragmentação da cultura).
Quanto ao método, ver a introdução de Argonautas do Pacífico Ocidental (ver fichamento). O livro causara grande impacto. Seu método dá ênfase a longa estadia no campo. Urge o conhecimento preciso da língua, para entende-los em seu uso, diferenças. Trata-se de um contato com o nativo, isolado de outros ocidentais. O campo deve ser intensivo, extensivo e meticuloso. Com a monografia, cria um novo gênero etnográfico: ênfase no total, no fato social total. História: pensa o presente etnográfico, não sendo possível entender a historia dos grupos (diferente de Boas), era criticado, pois a cultura muda. Fazia uso de teorias da Escola Sociológica Francesa, funcionalismo (instituições desempenham funções de coesão social).
Teroai da sociedade como sistema integrado, um organismo. Busca-se a totalidade (idéia durkheiminiana). Uma instituição pode ter uma função latente: inconsciente pelo nativo, e uma função manifesta: nativo consicente.
Faz uma mudança do centro de referência da antropologia: a cultura do nativo, e não do sujeito observador: comparações com o ocidente são para o leitor compreender a sociedade nativa, e não a ocidental.
Idéia de consciência coletiva – relaciona idéias e instituições com o todo cultural.
Função: a) atividade desempenhada pelos membros da tribo; b) interconexão de algo que fundamenta a coesão; c) algo essencial para tribo
Encontra um fato social total : o Kula
à Radicliffe-Brown: não se considera parte da escola estrutural funcionalista. Segue uma linha durkheiminiana, utiliza a noção de função, o método bibliográfico, faz uma etnografia. Crê que a antropologia social estuda estrutura e funcionamento social. Cultura é parte da sociedade, indivíduo parte da cultura. Isolamento teórico de partes da sociedade, apesar de que se deve vê-la como um todo. Entre questões pariculares e método comparativo, opta pelo ultimo.
Antropologia social é ciência natural que estuda fenômenos sociais.
A rede de relações pode ser renovada, mas a forma estrutural geralmente não muda muito: a) morfologia: definição, estrutura, comparação; b) fisiologia: funcionamento das totalidades dos fenômenos sociais; c) transformação social: processos de mudança.
Interesse e valores dos indivíduos transpassam nas relações sociais. Crê na evolução social das estruturas.
Estrutura como organização sócia, posição social, discurso nativo acerca da organização social, totalidade social: sociedade como organismo (cada instituição tem sua função dentro da estrutura à mapa da organização social = empírica). Estudo da estrutura por meio do parentesco e da mitologia (ideologia do mito está iontegrada a estrutura social).
Sentimentos não são inatos, a sociedade molda os indivíduos. Cerimônia: manifestações coletivas da totalidade. Não compara costumes. Todas as instituições de uma única sociedade são estudadas em conjutno.
No estudo sobre o irmão da mãe, parte da genealogia e vê como se dão relações genealógicas e afins e a partir delas parte para questões estruturais. Dispositivo irmão-da-mãe é usado para explicar estruturas, como que possibilitaria fazer sociologia comparada entre povos.
à Evans-Pritchard: Ázande
Vê a pesquisa de campo como mais uma das técnicas da pesquisa antropológica. Representações coletivas.
No Cap 1 ("Bruxaria é um fenômeno orgânico e hereditário"): bruxaria orgânica (intestinos), e hereditária (dos pais para os filhos de mesmo sexo
Cap. 2: "A noção de bruxaria como explicação dos infortúnios": Relação causa-efito é compreendida. Bruxaria atribuída a infortúnios, coincidências nocivas. Bruxaria está presente em todas as atividades. Azande sabem como lidar com bruxaria, mas não discutem o tema. Bruxaria como "segunda lança" (a primeira é uma cabana cair, a segunda é as pessoas estarem ali naquela exata hora) – tabus. Não separam o natural do sobrenatural.
Cap. 3: "as vitimas de infortúnio buscam os bruxos entre os inimigos": Mortes atribuídas à bruxaria. Noção de bruxaria e estrutura social. Domínio dos pais e mães sobre filhos e filhas respectivamente, e dos aritocratas sobre os plebeus. Não existe mau absoluto: bruxaria envenena relações
Cap. 8 "Oráculo de veneno na vida diária": Método: observação participante embasada na teoria. Bruxaria: regulamento sócio-moral; hierarquia social; inimizades existem; adultério (controle dos homens).
Outras racionalidades: mecanismos, infortúnios: Não tão coercitivos como em Durkheim. Há noção de função (social como organismo). Contemporâneo de BAteson, ponto em comum: emoções, relações constroem o social. Parte das formulações nativas (bruxaria é orgânica e hereditária) como teoria, e mostra como se vive a partir dessa teoria (vida cotidiana, relações interpessoais, práticas, regulação).
Bruxaria é generalizada, não individualizada. Na teoria social zande, bruxaria reflete jogo social (mecanismos de organização da sociedade: localização, inimizades, hierarquia). Bruxaria descreve infortúnio e cria meios de combate-la. Associação de fenômenos (causa e efeito mais infortúnio). Estamos diante de um sistema de micropolítica: aspectos sociais distintos.
Antropologia, sociologia do conhecimento. Não despreza registro históricos. Bruxaria é função dos jogos interpessoais. A esfera dos oráculos não é separada da vida cotidiana.
à Evans-Pritchard: Os Nuer
Chefes de pele de leopardo: importância nos rituais mas sem autoridade.
Capítulo "tempo e espaço": ponte entre capítulos de ecologia e economia para os relacionados a linhagem e território. Relatividade social; fissão e fusão. Confições físicas econômicas (ecológicas) limitam normas sociais que podem aparecer, mas não são determinados. Tempo e espaço são determinados pela ecologia e também pela estrutura social. Tempo ecológico: relação de elementos naturais com significação social. Tempo estrutural: determinado pelas interrelações estruturais.
Ano cíclico – tempo ecológico. Ciclo diário: atividades, tempo estrutural, passagem do tempo é a relação entre estas atividades diárias: tempo não é contínuo. Tempo estrutural: pontos de referencia. Conjuntos etários: fixa, não-cíclicos. Ordem de parentesco: distancia dos ancestrais comuns. Estrutura: constante, então tempo estrutural não passa. Indivíduos vivem e morrem mas a estrutura não se altera. Tradição:historia se transforma em mito. Espaço estrutural: relativo a organização estrutural (não a distância real).
Sistema político: Ecologia: vida social depende do gado. Sociedade se estrutura em torno da criação de gado. Categorias: segmentariedade dos Nuer: pertencimento à grupos: é relacional nas situações de conflitos. Movimentos de fissão, fusão – equilíbrio.
Em caso de homicídio ocorre a vendeta (ou doação de gado), mas no caso de aldeia há relações de parentesco – chefe pele de leopardo faz a intermediação entre grupos em conflito. Quanto mais distante da aldeia mais difícil de exigir pagamento de gados, pois não há poder central.
Organização política em aldeia é mais coesa, pois todos são relacionados (cada nível mais baixo nas divisões e subdivisões, o grupo é mais coeso, então a mediação é mais fácil). A coesão as vezes so aparece em situação de conflito externo. Não possuem um sistema jurídico como nós, mas a confiança no chefe de pele de leopardo, grupos, etc... é uma forma de lei. Sociedade acéfala: sem chefe.
Linhagem: relações agnáticas de ligação com ancestral. O clã principal dá nome a aldeia. Parentesco da mãe: outros clãs moral lá (não há diferença na vida cotidiana). Clã superior existe pois, como não há centro de poder político, serve como modelo. Sistema político segmentado é relacionado a linhagem agnática. Estrutura é empiricamente observada. Identificação política é territorial
Em suma: Noções de tempo-espaço: configurações destes elementos pelas relações sociais (ecológico com forte ligação com o estrutural). Difere de Durkheim, pois busca condicionantes da vida. Nas aldeias, conflitos intermediados pelo chefe de pele de leopardo. Política emana da estrutura. Trata-se de um projeto estrutural-funcionalista e comparativo (acahr o que é comum a todas as sociedades humanas). Afasta-se de Radcliffe-Brown, pois se preocupa com a maneira como a vidad é vivida (jogo político) e não só estruturas. Ênfase na linguagem.
à Max Gluckman
Análise de uma situaão social na Zululândia moderna: adaptar o paradigma estrutural-funcionalista para sociedades modernas. Questão do conflito (a partir da 2ª geração: como o jogo político é vivido). Conceito de situação social: eventos observados pelo antropólogo e a partir daí desdobra-se as implicações do que estava acontecendo, no âmbito das relações sociais, entre os dois grupos (no caso, a construção da ponte) = estudo de caso que possibilitam a análise de interações entre atores sociais. Assim como Leach, busca superar a ortodoxia (evans-Pritchard, Malinowski, Raddclife-Brown), tratam do conflito e competição e do ator que se interessa em galgar posições melhores.
Dinamismo central dos sistemas sociais é a atividade política por homens que lutam por poder e status dentro do quadro sociais, por vezes ambíguo. Para apreender o papel que lideranças africanas tem na África moderna lança mão do conceito de situação social.
Situação social na Zululândia: Critica a antropologia social britânica no que diz respeito à noção de estrutura. Crítica a identificação automática dos indivíduos na sociedade. Novo tipo de análise: método de etnografia. Interpretações de sua obra afirmam que ele demonstra a impossibilidade de se estudar grupos sociais isoladamente.
Escola de Manchester à rede (bastante empírica). Nasce em meio ao apartheid, sua noção de situação social mostra que o que existe é encontro (contato organiza a vida moderna na África) de grupos, e não separação. Caráter político do estudo: há situações de encontro, aparato administrativo colonial. Possibilidade de comparação : instituições participantes da mudança, mudança dos atores.
à Edmundo Leach: Sistemas Políticos da Alta Birmânia
Preocupação com a ação dos indivíduos dentro das estruturas (compreendidadas como configurações momentâneas). Conflito das normas e manipulação. Perspectiva histórica: mudança. Objetivo empírico ampliado. Modelo funcionalista que inclui mudanças: modelo como busca pelo equilíbrio (equilíbrio, integração do sistema, dinamismo dos sistemas sociais).
Mudança ocorre pela ação dos indivíduos quando estes mudam de posição: mudança intrínseca a posição social. Normas seriam ideais instáveis baseados em configurações momentâneas. Afastamento do modelo de Durkhim. Ritual como afirmação do status e estrutura social.
Alta Birmânia: Cham (plantadores de arroz) e Kachin (colinas): esses dois sistemas para Leach seiam o mesmo e se articulam, estão em equilíbrio.
Ritual (ação) e mito (palavras): explicação simbólica da sociedade (indivíduos que buscam status). Antropologia social anterior: estudava sociedades em equilibrio, isoladas: sociedades não estão em equilibrio, estruturas (abstratas) sim. Cultura pode variar, sem no entanto sistemas mudarem.
à Victor Turner: O processo ritual
Estrutura e processo. Liminariedade. Teoria é abrangente, estrutura maleável. Ritual: drama social. Performance. Communitas: circunstanciado pelas regras sociais. Estrutura e antiestrutura.
Aluno da Escola de Manchester, considera a noção de estrutura. O campo de experimentação social (espaço e ritual) é a antiestrutura, que possibilita a mudança. Processo, dinâmica.
Teoria do ritual: separação da vida cotidiana. Ritual de consagração da vida social (esta é revigorada por meio dos rituais): dinâmico
Se em Leach o mito justifica a facção e mudança social (mitos como retórica política) em Turner uma antropologia não cientifica, em que a estrutura é entendida do ponto de vista da anti-estrutura: estrutura muda na communitas.
à Mary Douglas: religião comparada: aluna de Evans-Pritchard. Produções simbólicas estudadas como representações sociais. Relações sociais são relações de poder. Transferiu conhecimentos feitos a partir de estudos de sociedades não ocidentais para o ocidente.
Introdução: Descarta o medo como parte das religiões primitivas. Higiene: sujeira é desordem (rituais de pureza e impureza criam unidade na experiência). Pureza/impureza, ordem/desordem.
Capítulo 6: poderes e perigos. Desordem como poder e perigo> pureza e impureza à rituais e status. Marginalidade (poluição e purificação): poder e perigo, afastamento do corpo social. Poder: 1) Controlado; 2) Descontrolado; 3) descontrolado por infração à estrutura. Tanto o poder consentido como o poder não-controlado atuam como controladores sociais.
Trata-se de uma análise da dimensão social, estrutura. A definição da ordem mostra o que é desordem. Desordem é espaço que revigora a sociedade, anti-estrutura é perigo. Antinomia reconhecida no espaço da desordem como explicativo da ordem, através do estudo do simbólico. Desordem é destrutiva para ordem, mas é necessária para sua manutenção. Desordem é perigo e poder. Poder: sociedade X amorfia circundante (poder emana da experiência liminar). Estrutura introjetada no individuo (cita Goffman).Com sua visão de estrutura atenta para visões parciais.
Capítulo 7: Limites externos: Corpo como representação para explicar a estrutura social. Impureza (contextualização do que é). Rebate análise dos rituais feitas por psicólogos. Ex etnográfico: sistemas de castas na Índia (impureza das classes inferiores).
Aula:
Tema do simbolismo. Estrutura social lida através dos símbolos (rituais, modificações do corpo). Leitura durkheiminiana: coerção social afeta a percepção do mundo que os indivíduos tem (sociedade se projeta no individuo, o antecede).
Acréscimo de Douglas: 1) Margem (não estrutura) é tão elucidativa para a compreensão do social quanto a estrutura; 2) A partir das zonas de impureza se entende perigos e possibilidades à estrutura.
Turner e Douglas: anti-estrutura não é regrada.
Faz monografia sobre os Lele. Antropologia comparada que, a partir da religião, se propõe a estudar as questões postas pelo ocidente (mundo judaico-cristão). Explicitação da ordem feita através da proibição (impureza, desordem). Corpo como plano de análise para antropologia (uma vez que ela estuda o simbólico). Estrutura: definição, portanto, negativa: " I am not usually refering to a total structure which embrances the whole of society continually and comprehensively". Definição positiva: "particular situations in which individual actors are aware of a greater or smaller range of inclusiveness"
Abordagem holística das classificações. Antinomias: pureza/perigo, forma/amorfia/ ordem.desordem: os dois pólos são elucidativos para se entender o social. Mundo é potencialmente caótico: qualquer experiência humana ocorre com definição da ordem social e exclui elementos possíveis: Estuda os resíduos da desordem, daquilo que é excluído da ordem.

Conceitos de Função e de Estrutura


Artefactos teóricos da “escola” estruturo-funcionalista – os conceitos de função, estrutura social e processo social em Radcliffe-Brown.

Bibliografia

RADCLIFFE-BROWN, A.R. 1979 [1952] “On the concept of function in social science”. In Structure and Function in Primitive Society. London, Routledge & Kegan

RADCLIFFE-BROWN, A.R. 1979 [1952] “On Social Structure”. In Structure and Function in Primitive Society. London, Routledge & Kegan

Abaixo deixo versões traduzidas para português:

Radcliffe-Brown, “O Conceito de “Função” em Ciências Sociais

Radcliffe-Brown, “Sobre Estrutura Social”

Radcliffe-Brown


Radcliffe-Brown e o estruturo-funcionalismo. A abordagem antropológica a sociedades africanas.
Leia breve biografia de Radcliffe-Brown e texto reecomendavel para sua leitura, clica nu subtitulo escrito em azul para baixares a biografia e o texto.
Biografia:


Obituário escrito por: Eggan e Lloyd Warner

Bibliografia recomendada:

GOODY, J. (1995), “The economic and organisational basis of British social anthropology in its formative period: 1930-1939: social reform in the colonies”, in The Expansive Moment. Anthropology in Britain and Africa, 1918-1970, Cambridge University Press, pp. 7-25

KUPER, A. (1973), Antropologia y Antropologos. La Escuela Britanica, 1972-1973, Barcelona, Anagrama, pp. 78-88

Enquadramento da Perspectiva de Franz Boas


Franz Boas (1858-1942)

Sobre Franz Boas e o seu metodo na Antropologia é so ler os seguintes texto a baixo mencionados, é e so clicando nos subtitulos ou letras em azul para fazer download ou baixar os textos.

TEXTOS PARA DOWNLOAD ABAIXO MENCIONADOS:

H. Lewis The Passion of Franz Boas

Boas, Franz, 1887, The Study of Geography

Boas, Franz, 1896, “The limitations of comparative method in anthropology”

Boas, Franz, 1920, “The methods of ethnology”

KUPER, A. (2008), A Reinvenção da Sociedade Primitiva. Transformações de Um Mito, Recife, Editora Universitária, pp. 161-186

Feldman-Bianco - ANTROPOLOGIA DAS SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS METODOS



Dicionario de Antropologia



Angel-B Barrio - Manual de Antropologia Cultural



quinta-feira, 9 de junho de 2016

Emerson Santiago - Antropocentrismo



Recebe o nome de antropocentrismo a ideia, surgida na Europa do fim da Idade Média, que considera o Homem o centro do cosmos. O antropocentrismo sugere que o homem deve ser o centro das ações, da expressão cultural, histórica e filosófica.

O Homem Vitruviano, desenho de Leonardo da Vinci, 1490.
Tal filosofia ganhará popularidade em detrimento de outra predominante, o teocentrismo, onde Deus (no caso, o deus da tradição judaico-cristã) preponderava como referência central na vida do cidadão comum. Como consequência, este momento na história europeia marca a separação entre Teologia e Filosofia, resultado do surgimento do humanismo renascentista, que eleva o antropocentrismo a ideia central. É a chegada de uma nova era, um tempo que valoriza a razão, o homem, a matéria, onde ter prazer em viver não é mais visto universalmente como pecado. Em suma, é uma ruptura com o período anterior.

Como pano de fundo para esta ruptura, há ainda um conjunto de fatores a serem considerados, como a decadência da poderosa estrutura da igreja católica e a ascensão dos estados nacionais no âmbito político, econômico e cultural, com o apoio da nobreza e da burguesia.

O surgimento do antropocentrismo causa ao mesmo tempo o declínio do escolasticismo, pois os novos intelectuais demonstravam interesse primordial pela literatura secular (humanae litterae, daí o nome de "humanistas"). As preocupações dos filósofos humanistas, desenvolvidas nos séculos posteriores, giram em torno de três grandes temas: o homem, a sociedade e a natureza. Estes novos filósofos eram questionadores, críticos, que não hesitavam em externar seu pensamento, preocupados em problematizar a realidade. É, enfim, um ser racional, que valoriza questões ligadas à matéria, o retrato do homem renascentista, que acredita que tudo pode ser explicado por meio da razão e da ciência.

A mudança de mentalidade será importante ainda no estímulo à pesquisa científica, fazendo com que as ciências, a arte e a literatura passem por evoluções constantes. Importante notar que, mesmo nos tempos atuais, onde os preceitos trazidos pelo antropocentrismo ainda predominam com bastante vigor, não houve uma extinção definitiva do modo de vida baseado na fé religiosa. Ao longo dos séculos, vemos vários estados cujas leis fundamentais, ainda hoje, estão baseadas na fé. Mesmo em um dos mais importantes celeiros do capitalismo e do moderno pensamento humanista como os Estados Unidos, podemos encontrar comunidades que praticam um estilo de vida baseado no teocentrismo, como no caso da região conhecida como Bible Belt (ou "cinturão bíblico" em inglês). Aliás, foi desta área, que pela primeira vez, surgiu, no final do século XIX a expressão “fundamentalismo”, hoje muito popular para definir os modernos terroristas religiosos.

Bibliografia:
CARVALHO, Frank Viana. Humanismo e Antropocentrismo. Disponível em: < http://frankvcarvalho.blogspot.com.br/2011/08/humanismo-e-antropocentrismo.html >. Acesso: 25/05/13.

Antropocentrismo. Disponível em: < http://www.redescola.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=421:antropocentrismo&catid=42:documentos >. Acesso: 25/05/13.

Antropocentrismo. Disponível em: < http://www.infopedia.pt/$antropocentrismo >. Acesso: 25/05/13.

domingo, 5 de junho de 2016

Luís et all. - A Interpretação das Culturas “Recensão critica”



UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE
FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA E ANTROPOLOGIA
Curso de Antropologia
Cadeira: Individuo & Sociedade
Tema: A Interpretação das Culturas “Recensão critica”
3 ano – Período Laboral – 1 Semestre
Trabalho em Grupo



Discentes:                                                                                                 Docente:
Albertina Cossa                                                                                   Dr. Danúbio Lihahe
Bernissa Bushasha
Edson Zandamela


 Maputo, aos 13 de Abril de 2016

1.1 Resumo
Este livro consiste na apresentação de um trabalho antropológico Clifford Geertz, desenvolvido sob a égide da perspectiva teórica do interaccionismo simbólico. A análise de Geertz parte do princípio de que a Cultura é formada como uma teia de significados tecidas pelo homem. Significados estes que os homens dão às suas acções e a si mesmos. Este propõe uma revisão onde a cultura passa a ser vista como um padrão de significados transmitidos geracionalmente representadas por símbolos e efectivados em comportamentos, onde para tal os indivíduos membros devem se submeter ao sistema de signo patente. Este usa a perspectiva teórica do interaccionismo simbólico para análise antropológica das dimensões culturais da política, da religião e dos costumes sociais e apoia-se em vários exemplos etnográficos como o da “briga de galos Balinense”, assim como “sistemas de casamento em parentesco europeus medievais”. O sistema cultural de organização pode ser definido pelas estruturas estruturantes. O conteúdo ideológico da cultura não se esgota, pois tem um caracter arbitrário que no senso comum é indiscutível e mediador na apreensão entre os signos e significados que são apresentados na cultura.

Palavras-chave: interpretação, interaccionismo simbólico, culturas, natureza, homem.

1.2 Introdução
O presente trabalho esta inserida no sistema de avaliação da cadeira “Individuo e Sociedade”. Nele pretendemos fazer uma recensão crítica do texto de Geertz com o título intitulado “A Interpretação das Culturas” publicada em 1989. Onde esta ira centrar-se na discussão levantada pelo autor referente a reflexão sobre a cultura e suas principais manifestações e suportes como religião, ideologia e símbolos sagrados.

Relativamente a metodologia, nesta análise crítica privilegiamos um modelo altamente qualitativo que baseou-se na leitura exploratória e profunda dos textos referenciados na bibliografia. A abordagem qualitativa segundo Goldenberg (2001); Minayo e Saches (1993), permite o investigador entrar no mundo dos investigados captar a lógica do fenómeno em estudo a partir das intenções e projectos dos actores sociais abrangidos pelo estudo, assim como permite aprofundar o mundo das significações das acções e relações entre indivíduos dentro e fora do campo.
Quanto a estrutura, o trabalho se dispõe da seguinte maneira, a primeira parte: introdução, onde apresentamos tema, metodologia e algumas fontes do trabalho, e uma segunda parte composta pela recensão crítica, onde se discute o tema com recurso aos textos da bibliografia indicado, e uma conclusão onde se da uma súmula da discussão do trabalho, e a referência onde mostramos algumas fontes usadas no trabalho.

1.3 Breve Biografia do autor
Clifford James Geertz é um antropólogo norte-americano, nasceu em 23 de agosto de 1926, São Francisco, Califórnia. Antes de se deixar influenciar pela antropologia, graduou-se em filosofia e inglês. Obteve seu PhD em antropologia em 1956, desde então realizou profundas pesquisas de campo que deram origem acerca de 18 publicações em forma de ensaios.

1.3.1 Perspectiva teórica
Clifford James Geertz opta por uma postura considerada como antropologia interpretativa, que segue uma linha de passamento que baseia-se na teoria interpretativa ou simbólica. Geertz na sua obra “A Interpretação das Culturas” com base em análises concretas cria um tratado da teoria cultural.

1.3.2 Problemática
Quanto a problematização, a antropologia interpretativa de Geertz que tem olhando a cultura como hierarquia de significados tecidas pelo homem. Significados estes que os homens dão às suas acções e a si mesmos. Assim a etnografia, para conhecer a cultura, mais que registrar os factos, deve analisar, interpretar e buscar os significados contidos nos actos, ritos, performances humanas e não apenas descrevê-los. Busca da “descrição densa”. Interpretação e Leis. Inspiração Hermenêutica. Interpretação antropológica leitura da leitura que os “nativos” fazem de sua própria cultura.

1.4 Recensão crítica
Clifford Geertz encara a cultura como uma execução pública de sinais e atos simbólicos.Em "Pessoa Tempo e Conduta em Bali" (em "Interpretação da Cultura") Geertz discute a importância de reconhecer a natureza do pensamento e da percepção humana como um mecanismo social empregada para a análise cultural.
A cultura pode ser considerada como uma teoria, elaborada pelo antropólogo, sobre a forma pela qual um grupo de pessoas se comporta realmente.

De acordo com Kluckhohn (apud GEERTZ, 1989, p. 4) concebe a cultura como: o modo de vida global de um povo onde este pode ser um legado social apreendido que o indivíduo adquire do seu grupo partindo da sua forma de pensar, sentir e acreditar gerando uma abstracção do comportamento.
Está pode ser uma forma de regulamentação, e orientação padronizada do comportamento. O estudo da cultura de acordo com Geertz é o estudo do mecanismo utilizado por indivíduos e grupos, de modo a orientar-se no quotidiano. Estes mecanismos servem soluções particulares para os problemas existenciais universais da cognição e orientação, respondendo a perguntas como quem somos, de onde viemos, a relação entre nós e outras pessoas e entre nós e a natureza.

Para Benedict cada cultura produz padrões diferentes e uma cultura é bem desenvolvida quando os indivíduos têm oportunidade de aproveitar os aspectos que lhes oferecem, quando a cultura é pobre os indivíduos não aproveita e sofrem. Esta sustenta que o comportamento grupal tem suas raízes no comportamento individual, não havendo antagonismo, mas há inter-relação entre o grupo social e os membros que o compõem. A sociedade não pode ser separada dos indivíduos e, por sua vez, nenhum indivíduo alcançará suas potencialidades sem uma cultura em que participe.

Desta forma a cultura e os indivíduos são elementos interdependentes na medida em que, sem a actuação dos indivíduos seguindo os padrões estabelecidos pelas suas culturas estas correm o risco de perder a sua essência. Para a compreensão da cultura devemos apreender não só o carácter essencial das várias culturas mas também os vários tipos de indivíduos dentro de cada cultura. Partindo desta análise nota-se que integração entre o homem e a cultura, deve-se entender que a cultura é mais do que alguns padrões complexos de comportamento, mas um conjunto de meios de controlo para orientação do comportamento humano através de uma simbologia cultural que estará lá quando o indivíduo nascer e ainda estará lá quando ele morrer, tendo ele a modificado ou não.

Na busca de análises profundas do estudo da cultura há o risco de que a análise da perca contacto com as dificuldades presentes na superfície como as questões políticas e económicas, as necessidades biológicas e físicas. Para ultrapassar estas dificuldades propõem-se uma descrição densa que serve de acervo para a forma com que antropólogo deve descrever as suas análises.

Nessa ordem de ideias a descrição densa nos permite ouvir, observar (ver), escutar, e criar uma fórmula que nos permita balançar ou medir os factos socias de forma a compreender os mecanismos que estruturam a vida social dos indivíduos dentro de um determinado contexto, onde as significações socias são o ponto central.
"... A cultura fornece a ligação entre o que os homens são intrinsecamente capaz de se tornar e o que eles realmente, um por um, de fato tornam-se".
Geertz discute a importância de reconhecer a natureza do pensamento e da percepção humana como um mecanismo social empregada para a análise cultura. Nessa ordem ideias podemos considerar que o homem é o produto da cultura, isto nos remente a uma analise do homem em sua totalidade onde claramente como sustenta Lévi-Strauss que os estudos científicos não podem reduzir simplesmente os aspectos complexos em aspectos simples. As culturas de certa forma são criadas com logicas implícitas no individuo que são independentes ao modo de vida material assim como das relações sociais.

Se Geertz intede a constituição da cultura partindo da associação ou comparação como teia de aranha, de certa forma o autor acaba criando uma contradição entre os seus posicionamentos teóricos e as suas praticas etnográficas. 

Para Geertz o homem de hoje é diferente dos seus antecessores, não só por causa da cultura, mas também da biologia. Este posicionamento pode ser tido como uma das lacunas da compressão interpretativa da cultura por ele proposta pós sabe-se que o biológico em nenhum momento da história o biológico foi suficiente para as explicações das relações socias, apesar de que reinou num período a manipulação destas ideias para sustentar tais compreensões, porem sabe-se que este posicionamento era carregado de etnocentrismo.

A antropologia interpretativa explica questões profundas, assim como coloca à disposição muitas outras respostas que já foram elaboradas, aumentando o número de registros sobre o que o homem tem falado, quando percebemos os simbolismos implícitos nas acções sociais ou seja na arte, religião, ideologia, ciência, lei, moralidade, senso comum, não nos afastamos dos dilemas existenciais, ao contrário, mergulhamos no meio deles, fazendo uso da hermenêutica interpreta as culturas explorando o inconsciente através das acções do nosso consciente.  
Portanto, não existe uma natureza humana independente da cultura. Seria o mesmo que imaginar que os meninos-lobos (ponto zero) são o exemplo de homem genérico, que buscava o iluminismo. Sendo assim, uma posição possível a respeito desse assunto, um ponto de vista conciliador, como pretende 
Geertz, da relação entre homem e cultura é não descartar os universais culturais e nem as particularidades das diversas culturas. Há uma relação intrínseca entre as duas posições.
Geertz (1989:35), explora a história de estudar a natureza do homem apontando que o conceito de esclarecimento do homem na sua totalidade e ser uma cultura completo animais busca levou aos conceitos racistas desse período e os tempos que se seguiram.

“Um ser humano pode ser um enigma completo para outro ser humano. Nós não compreendemos o povo, ainda que dominemos seu idioma. Nós não podemos nos situar entre eles”. Neste trecho, ele faz uma crítica a B. Malinowski. Para Geertz, falta a interpretação à descrição etnográfica de Malinowski.

O método usado, Geertz acaba por fazer uma" violação de territorialidade". Ninguém está imune aos sistemas de símbolos através do qual um conhecimento da realidade é comunicado. Pós baseou-se e alterou e consolidou uma ampla variedade de trabalhos através de várias disciplinas de filosofia, linguística e crítica literária para a psicologia, biologia, e as várias ciências sociais.

A descrição etnográfica para Geertz é, portanto, interpretativa e microscópica (os antropólogos não estudam as aldeias, eles estudam nas aldeias). Há uma série de características de interpretação cultural que tornam ainda mais difícil o seu desenvolvimento teórico. A primeira é a necessidade de a teoria conservar-se mais próxima do terreno do que parece ser o caso em ciências mais capazes de se abandonarem a uma abstracção imaginativa. Somente pequenos voos de raciocínio tendem a ser efectivos em antropologia; voos mais longos tendem a se perder em sonhos lógicos, em embrutecimentos académicos com simetria formal.

Sob o ponto de vista antropológico "ethos" resume aspetos morais e éticos de determinadas culturas. Concomitantemente os aspectos cognitivos e existenciais são resumidos pelo termo "visão de mundo". Já os símbolos são adoptados para suprir necessidades englobando situações às quais é preciso, segundo Burke (apud GEERTZ, 1989:102) "dar mais atenção a como as pessoas definem situações e como fazem para chegar a termos com as mesmas."
O trabalho de Geertz participa de uma "preocupação emergente com o mundo tal como é vivida e percebida, em vez de forma mais objectiva".
Porque suas fontes são cosmopolitas, como se poderia esperar, a sua aplicabilidade é igualmente diversos.
Olhando para os seus conceitos gerais que são:
·        Uma vista Uniforme
Formado por antropólogos do Iluminismo, a ideia de que toda a humanidade opera em leis semelhantes que dicam cultura e comportamento, consenso de toda a humanidade.
 Generalização
Simplificando os elementos de uma variedade de culturas para caber uma definição, a fim de formar leis unificadoras. "A noção de que a menos que um fenómeno cultural é empiricamente universal não pode reflectir nada sobre a natureza do homem.



·         Homem contra homem (visão ambígua)

O "Homem" é encontrado em torno de sua cultura; "Homem" é encontrado em sua cultura (37).


1.5 Conclusão
Portanto, além de cada cultura ser única, cada indivíduo dentro dessa cultura também o é mas de uma forma ou de outra, esse indivíduo é, acima de tudo, um ser cultural. Sem os homens certamente não haveria cultura, mas de forma semelhante e muito significativa, sem cultura também não haveria os homens.

Geertz conclui que a semiótica e acção simbólica é o meio para interpretar culturas de forma eficaz, uma vez que as culturas são sistemas de símbolos, e as acções são simbólicas em si mesmos. Trazendo aqui vários exemplos, que vão desde a etnografia da briga de galos Balinense, até a análise dos sistemas de casamento em parentesco europeus medievais. No âmbito destes estudos, percebe que, como estrutura estruturante na organização das sociedades está a cultura.

Entretanto, o autor indica que o essencial é anotar e interpretar o discurso social. Excelente livro para todos os que se dedicam a estudar a antropologia cultural, pois é uma obra que além de servir como introdutória, situa o leitor no âmago de alguns dos debates mais candentes do campo em questão.
  
1.6 Referência Bibliográfica
BENEDICT, R. (s/d), Padrões de Cultura, Livros Brasil, Lisboa.
GEERTZ, C. (1989), A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC Editora.
GOLDENBERG, Mirian. 2001. A arte de pesquisar: como fazer uma pesquisa qualitativa em ciências sociais. 5 ͣ Edição, Rio de Janeiro e São Paulo: Record.
MINAYO & Sanches. 1993. “Quantitativo – Qualitativo”: Oposição ou complementaridade? Cad Saúde pública. Rio de Janeiro, 9 (3): 239 – 262. Julho/ Setembro.





CHALMERS, Alan - O Que é Ciência Afinal