quarta-feira, 16 de maio de 2018

Lévi-Strauss e o Progresso do seu Pensamento


"Raça e História" - de Claude Lévi-Strauss

Lévi-Strauss esforçou-se em combater uma visão exclusivamente positivista de progresso, bem como o etnocentrismo, nos mostrando suas implicações nas relações entre raça, cultura e história. Gostaríamos de abordar, em primeiro lugar, esses dois conceitos (progresso e etnocentrismo) e depois partir para as outras relações mais amplas.

Strauss critica a concepção ocidental de progresso, uma vez que essa baseou-se fortemente num ideal de complexificação e acúmulo de conhecimento e de técnicas. A sociedade ocidental, que toma a sua concepção de progresso como parâmetro absoluto, privilegia o ideal de aperfeiçoamento científico e cumulativo, ignorando os cortes epistemológicos e o abandono de saberes que se tornaram obstáculos. Essa posição de progresso é capital para uma posição etnocêntrica, pois apreendemos com esse olhar a outra sociedade como se ela possuísse uma “falta de progresso”. O etnocentrismo é uma postura na qual apreendemos o outro a partir de ideias pré-concebidas. Tendemos a encarar o progresso como uma escada a qual toda sociedade deveria subir: as que não subiram passam a ser atrasadas ou estáticas. Lévi-Strauss, porém, vai nos atentar ao fato de que nenhuma sociedade é desprovida de dinamismo – o seu dinamismo próprio. O erro da abordagem etnocêntrica está em sua análise entre as relações raça-cultura e raça-história.

A definição de raça contaminou-se devido ao etnocentrismo: funciona mais num sentido de exclusão, onde tende-se a postular as raças como isoladas umas das outras e a ignorar as colaborações gnoseológicas e técnicas que as diversas culturas nos deixaram numa perspectiva global ao longo da história. Strauss coloca que apesar do homem ter vivido intensas transformações na Revolução Industrial, a Revolução Neolítica mostra-se tão, ou até mais, importante que a última. Entretanto, a postura corrente tende a considerar o “homem primitivo” (que nos antecedeu na história) e o outro da nossa sociedade como inferiores: a Revolução Industrial seria uma grande revolução enquanto a Revolução Neolítica seria uma pequena, fruto mais do acaso do que de um aprimoramento técnico.

Lévi-Strauss coloca-nos a importância de uma abordagem não-etnocêntrica da cultura e da história das demais sociedades, o que se traduz, em outras palavras, numa aberta recepção das diferenças, num conhecer-se a partir do outro. As culturas e as histórias se diferenciam. Porém, isso não significa que uma cultura possa dominar outras, pautando-se por diretrizes etnocêntricas.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Discurso sobre a África: uma analise Antropológica

Discurso sobre a África
Os meios de comunicação são uns dos grandes responsáveis por nossas percepções sobre a África. No Brasil, tem limitadíssimo número de referências ao continente. Em geral, é somente quando grandes crises humanitárias – como secas devastadoras e fome generalizada – assolam a África que os jornais noticiam alguma coisa. A média desempenha um papel exemplar em construir uma determinada imagem da África.

A média internacional insiste em reforçar essa visão de uma África pobre, destruída pela guerra, fome e seca. Por que continua a predominar no mundo a imagem de uma África sem saída, cujos governos totalitários e democracias corruptas esvaziam os cofres públicos, deixando sua população totalmente à deriva dos grandes problemas sociais, como a miséria absoluta, o desemprego e a criminalidade.

Cabe relembrar que sempre predominou na África a tradição oral. Isso significa que as histórias no continente foram passadas de geração em geração, camuflando-se entre mitos, lendas e outras fantasias do imaginário popular. Eram poucos os registros históricos escritos. Até que os europeus chegaram e registraram o que viram, obviamente, sobre suas percepções. 

Durante a colonização, os europeus trataram de criar uma nova ciência para estudar melhor seus colonizados: a antropologia. No entanto, seus objectivos eram evidentes: legitimar as causas do invasor. Fortalece-se então a ideologia da dominação: o racismo. Ainda hoje herdamos essa visão racista da história africana. Dessa forma, na minha óptica as percepções que os ocidentais têm actualmente da África são resultado da visão eurocêntrica racista dominadora que prevaleceu. Mas os países africanos, após a Segunda Guerra Mundial, conquistaram um a um sua independência.

Joseph Ki-Zerbo, história e política 

Muitas das lideranças da independência se comprometeram a ir muito além do status quo político. Entre essas, destaca-se Joseph Ki-Zerbo. O intelectual da Burkina Faso revolucionou o pensamento africanista. Empenhou-se, como intelectual e homem político, a lutar pela busca de uma identidade do continente, mostrando que esta é resultado de uma evolução, de um progresso, e de lutas políticas e intelectuais. E tendo percebido que a África não poderia avançar no futuro se não conhecesse seu passado, desenvolveu-se como historiador, inspirando gerações dedicadas a resgatar a riquíssima história do continente e de seus povos.

Ki-Zerbo ainda complementa destacando a importância da união das nações africanas para essas conquistas, creditando no panafricanismo um meio de dar esse “arranque” para o seu próprio progresso.

KI-ZERBO Joseph. Para quando a África? Entrevista com René Holenstein. 2006.

Resultado de uma série de entrevistas que René Holenstein – Doutor em História e especialista em questões de desenvolvimento – realizou com Joseph Ki-Zerbo entre os anos de 2000 e 2002 (especialmente nas cidades de Uagadugu/Burkina Faso/, Genebra/Suíça e Pádua/Itália),o livro Para quando a África? Deve ser entendido como o saldo de uma visão apurada sobre a história do continente, através dos olhos de um dos maiores historiadores africanos (1922-2006). 

Argumentando sobre vários temas relacionados à história africana, num primeiro momento, Ki-Zerbo reflecte sobre a questão do Estado no continente africano, complementando as análises com sua própria experiência pessoal. Sendo a grande maioria dos Estados africanos de formação recente, Ki-Zerbo afirma que seus dirigentes fazem dos Estados africanos Estados patrimoniais (ou ainda étnicos), que não são um estado verdadeiro, para o autor. A questão-chave é, então, a integração do continente, na tentativa de reverter o quadro de fragmentação resultante dos processos de independências. E a integração se dá pela identidade, cujas línguas e respectivas culturas são factores de agregação. Nesta perspectiva, o autor reitera que a troca cultural é mais desigual que a troca de bens materiais, assim, “... um dos grandes problemas da África é a luta pela troca cultural equitativa. 

Uma cultura sem base material e logística é apenas um vento que passa” (pág. 12). O autor afirma que, sendo a África o berço da humanidade, sua história tem sido recontada a partir da sua própria matriz, principalmente desde os tempos em que Ki-Zerbo estudava em Paris, na Sorbonne2, onde juntamente com outros autores-poetas (sua própria definição), como Aimé-Césarie, Leopold-Sédar Senghor e René Depestre, passou a apresentar um olhar alternativo sobre a África, “... um olhar sem complexos, que respondia ao desprezo com um desafio” (pág. 15).

A afirmação do autor sobre a necessidade de um contra sistema (ou sistema alternativo) à globalização actual abrange o princípio do dever-se pensar globalmente e agir localmente, não esquecendo que o pensamento não deve nunca ser separado da acção, e assim reciprocamente. O isolamento, neste sentido, não é possível diante de uma economia de informação, onde não há fronteiras. Logo, o papel da África neste mundo globalizado, deve ser o de um projecto colectivo, baseado nos bens económicos, nas ligações sociais e valores culturais. Ou seja, a África deve ir ao fundo da sua cultura, da sua civilização, para “... encontrar um espírito que concilie simultaneamente a liberdade e a igualdade” (pág. 157). Um exemplo desse projeto proposto por Ki-Zerbo se refere às, já em andamento, economias solidárias africanas, baseadas na partilha, via humanismo: numa responsabilização, por parte das famílias, da produção comunitária, local por excelência, pois, para Ki-Zerbo, “o centro está em nós mesmos” (pág. 158).

Ainda transitando por temas como a guerra e a paz, direitos humanos, democracia e governo, e, principalmente, renascimento africano, Ki-Zerbo afirma que o pacto colonial dos séculos XVI/XIX ainda hoje perdura, onde a África, no papel de produtora de matérias-primas é a mesma: entre 60 a 80% do valor das exportações africanas são matérias-primas puras: “O Estado nacional é ultrapassado [em tempos de globalização] e, mais do que nunca, estamos perante uma economia de oferta: produz-se em quantidade, procurando-se fabricar consumidores para adaptá-la à produção. Creio que este é o centro do sistema capitalista actual. E a África, mais uma vez, neste domínio, está muita mal dotada” (pág. 38).

E, a modo conclusivo, o autor torna-se taxativo sobre as características do mais recente estágio da globalização (e último da domesticação), no qual a África faz parte da grande fatia dos perdedores: os aspectos da exploração/ degradação ambiental, o plano económico desigual entre as nações, e a falta da industrialização africana actual. 

Ki-Zerbo, no entanto, arrematou optimista sobre a verdade da relação de que os mais pobres não são os menos ricos em matéria de consciência, afirmando que: “Há pessoas extremamente ricas, ditas desenvolvidas, e sociedades extremamente ricas onde o nível de consciência não é tão elevado como nas sociedades mais pobres. Por toda a parte há humanos por inteiro e anti-humanos, mas não há por toda parte condições mínimas para a dignidade. Normalmente, seria necessário associar tudo ao máximo: a ciência, a consciência e a vida. É verdadeiramente a vocação do ser humano. [...] A consciência é a responsabilidade. É o guia que governa o foco incandescente do espírito humano, É o 'coração' que um dia será pesado no tribunal de Osíris3”. (pág. 161).

Para ele, no final das contas, a consciência prevalece, mostrando uma inatingível confiança no curso da história, onde a África “... que o mundo necessita é um continente capaz de ficar de pé, de andar em seus próprios pés”. Uma África consciente do seu passado e capaz de mudar seu futuro, pelo conhecimento do presente.

Representações das Identidades das Mulheres Negras

A representação da identidade da mulher negra é particularmente tratada nos princípios de sua participação sociocultural nos contextos, e veiculada como forma de caracterização e representação do feminino na sociedade.

Em nossa sociedade pós-moderna, concebe-se a identidade como algo que se constrói durante toda uma vida. A construção identitária feminina se deu, em boa parte, através das principais instituições sociais, como a Igreja, a Família e o próprio Estado, que enraiaram o patriarcalismo em suas estruturas. 

Dai que surge o movimento feminista, que vai lutar pelo espaço das mulheres que sempre lhes foi negado. Porem, a mulher negra aparece novamente excluída de mas esse processo, seja pelo factor da escravidão, que retira o direito e a oportunidade da mulher negra de inserir-se em determinados contextos sociais ou ate mesmo pelo isolamento de algumas comunidades negras com relação a esse mundo pós-moderno.

Referencias

Pinto, S. (2007) “A Construção da África: uma reflexão sobre origem e identidade no continente” in Revista ACOALFA: Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa, Ano 2, No. 3.

Pinto, S. (2007) “A Construção da África: uma reflexão sobre origem e identidade no continente” in Revista ACOALFA: Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa, Ano 2, No. 3.

KI-ZERBO Joseph. Para quando a África? Entrevista com René Holenstein. Rio de Janeiro,
PALLAS, 2006, 172 páginas.

Biografia da Eunice Ribeiro Durham


Eunice Ribeiro Durham possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1954) , mestrado em Ciência Social (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo (1964) e doutorado em Ciência Social (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo (1967). Professora Emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Professora-titular aposentada de Antropologia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

Tem experiência na área de Antropologia, com ênfase em Antropologia Urbana. Atuando principalmente nos seguintes temas: migração rural e urbana, movimentos sociais urbanos e organização familiar das classe populares. Nos últimos 18 anos, vem se dedicando a pesquisas na área de Ensino Superior.

Foi Coordenadora do NUPES- Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior da USP (além de co-fundadora do mesmo) - 1989-2005.Pesquisadora e membro do Conselho do NUPPS- Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP - 2005 até presente data. Ex-Membro do Conselho Nacional de Educação, Câmara de Ensino Superior - 1997 - 2001. Ex-Presidente da Fundação CAPES - 1990 - 1991. Ex-Secretária Nacional de Educação Superior do Ministério de Educação- 1992. Ex-Secretária Nacional de Política Educacional do Ministério de Educação - 1995 - 1997. Membro do Conselho Estadual de Educação (2008 - 2012). Autora de diversos artigos e livros de Antropologia e sobre Ensino Superior.

O pensamento e a obra de Eunice Ribeiro Durham, professora titular. atualmente aposentada, da Universidade de São Paulo, constituem referenciais obrigatórios no ensino e na pesquisa em antropologia no Brasil; principalmente na área de antropologia urbana. Da sala de aula ao campo, atuando, paralelamente, em instituições científicas e públicas como ABA, ANPOCS, CONDEPHAAT, CAPES, SBPC e Ministério da Educação, tanto desenvolveu trabalho investigativo acadêmico quanto atuou na área das políticas públicas educacionais para o ensino superior. Nesta entrevista, Eunice Durham fala, inicialmente, de sua adolescência, da escolha da carreira de antropologia, dos anos de formação e do período em que foi assistente voluntária na Universidade de São Paulo. Conta como, logo em sua primeira experiência de trabalho de campo, com meeiros convertidos ao Adventismo da Promessa, em Minas Gerais, os temas da família e do parentesco permearam a pesquisa. Estes temas tornaram-se centrais em suas investigações sobre imigração italiana, migrantes nacionais e periferias urbanas, bem como nos trabalhos de alguns de seus orientandos. Suas pesquisas privilegiaram populações em processo de adaptação a novas formas de inserção social e política, em uma sociedade urbanizada e industrializada. Alocada no departamento de Ciência Política no período imediatamente posterior à Reforma Universitária, Eunice Durham desenvolveu, durante as décadas de 1970 e 1980, junto com Ruth Cardoso, um programa de pesquisas com populações urbanas, dando ênfase aos movimentos sociais emergentes e às relações entre cultura e política. Utilizando a categoria “classes populares”, num momento em que as ciências sociais da USP estavam sob forte influência do marxismo, Eunice e Ruth orientaram pesquisas sobre temas, grupos e categorias sociais – como relações de vizinhança, lazer, sexualidade, religião, classes médias, entre outros - que dificilmente poderiam ser analisados a partir dos conceitos marxistas de alienação, luta de classes, burguesia e proletariado. Outro marco foi a crítica ao conceito de ideologia. 

A trajetória intelectual de Eunice Durham segue paralelamente a uma parte expressiva da história da antropologia no Brasil. De sua larga experiência teórica extraímos uma visão ampliada pelo diálogo constante entre antropologia, sociologia, ciência política, história e até com a biologia. Em seu senso de responsabilidade social, principalmente em relação à análise de nosso sistema educacional, buscamos inspiração como antropólogos e cidadãos. 

Principais Artigos

  • DURHAM, E. R. "A formação de professores iniciais do Ensino Fundamental e para a Educação Infantil"

Livros

  • A Dinâmica da Cultura;
  • A Reconstituição da Realidade;
  • O Ensino Superior em Transformação: Eunice Ribeiro Dunham e Helena Sampaio;
  • Avaliação do Ensino Superior: Eunice Ribeiro Dunham e Simon Schwartzman

domingo, 21 de janeiro de 2018

Ritual Kupofia: praticas e significado entre muanis da cidade de Pemba


Autor: Jamal, Juma Saide

Dr. Adriano Biza, (Supervisor)

Resumo

Os rituais são uma prática regular em Moçambique, mesmo sofrendo restruturações na sua abordagem, os rituais permanecem como uma tradição enquanto entidade responsável pela preparação e condução dos indivíduos durante a vida. Neste trabalho o objectivo principal é compreender o significado e as práticas do ritual sendo um dos aspectos em que os intervenientes moldam suas identidades em contacto com várias realidades sociais. O ritual kupofia é uma prática de alinça matrimonial recorrente dentro da comunidade muani, que consiste no reconhecimento da relação entre o homem e a mulher diante das duas famílias. Os indivíduos dão a intender o significado do ritual kupofia como sendo uma cerimónia cultural e tradicional na comunidade muani, que serve para dar a legalidade da relação entre o homem e a mulher, esta consiste em dar aos indivíduos respeito, responsabilidade e consideração entre as duas famílias e a comunidade em geral. 
Os resultados de pesquisa permitem inferir que antigamente o ritual kupofia consistia pela parte dos pais a escolha do futuro parceiro ou parceira dos seus filhos, mas actualmente o processo sofreu transformações, normalmente já não são os pais que escolhem e decidem sobre a futuro parceiro ou parceira dos seus filhos. O estudo permite-nos igualmente desenvolver um raciocínio através do qual os aspectos de mudança na prática do ritual estão ligados a aquisição e interiorização de novos valores tais como, a escolha livre dos cônjuges, a monetarização da prática, diferencial etário dos cônjuges. No mesmo diapasão, há múltiplos espaços de interacção contemporânea como a expansão da rede escolar, globalização que moldou novos modelos e padrões comportamentais dos indivíduos.

Palavras-chave: Ritual, Tradição, Identidade Social.

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Viver na Terra, Trabalhar no Mar: um estudo sobre a prática de pesca com a rede de arrasto na comunidade de Quelelene, Angoche


Autor: Muhamade, Issufo

Dr. José Teixeira, (Supervisor)

Dr. Euclides Gonçalves, (Co- Supervisor)

Resumo

No presente estudo exploro a pesca artesanal na comunidade da Ilha de Quelelene. No estudo examino a interação entre pescadores que usam a rede de arrasto e as entidades de gestão de recursos marinhos. Para a recolha de dados efectuei trabalho de campo na comunidade da Ilha de Quelelene no distrito de Angoche, onde entrevistei os pescadores e autoridades de gestão pesqueira, realizei grupos focais com os pescadores, observei a prática de pesca e participei numa ronda pesqueira. Os dados que recolhi com base nas entrevistas e observações dos pescadores da comunidade da Ilha de Quelelene, mostram que existe uma interação entre os pescadores e as autoridades de gestão pesqueira na prática da pesca com a rede de arrasto. Os resultados do estudo permitiram-me concluir que os pescadores articulam práticas tradicionias de pesca e as medidas sugeridas pelas autoridades pesqueiras. No entanto, essa articulação é um mecanismo de convivência com essas práticas procurando, por um lado, manter as suas práticas tradicionais com uma dimensão cultural e carga simbólica muito forte, e por outro lado, cumprir com as políticas vigentes.

Palavras-chave:  Comunidades Pesqueiras, Pesca Artesanal.

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A metamorfose da cidade: vivências e práticas quotidianas dos espaços na “Sommershield II”


Autor: Manhiça, Anésio da Conceição Ribeiro

Dr. Jossias, Elísio Manuel Fernado (Supervisor)

Resumo

O presente relatório resulta de uma pesquisa etnográfica realizada entre os habitantes do bairro “Polana Caniço A” com enfoque nas vivências, num espaço que cruza categorias projectadas por instituições administrativas da cidade e noções locais sobre bairro. Os espaços do bairro “Polana Caniço A” encontram-se em franca transformação em consequências das novas habitações e instituições sociais que desafiam a forma como são pensadas e vividas as noções de espaço e de bairro. A evidência dessas transformações é desaparecimento de características associadas ao nome “Polana Caniço A” e emergência de características associadas ao nome “Sommershield II”. As experiências históricas de transformação dos espaços da “Polana Caniço A” que no passado recente conheceu outras transformações ao nível das estruturas de construção de habitações, fez emergir o nome “Sommershield II” como designação de um espaço dentro do bairro “Polana Caniço A” que é reivindicado como bairro e que desafia os critérios legais de organização e nomea.

Palavras-chave: Polana Caniço A, Espaço, Noção de Bairro, Sommershield II

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Francis Bacon e suas Idolas


Elaborado por: Hélder Luís

Trabalho apresentado na disciplina de "Introdução ao Método Etnográfico" no curso de licenciatura em Antropologia da Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique) no ano de 2016. 

Os ídolas segundo Francis Bacon são noções falsas que invadem o intelecto e dificultam o acesso à verdade. Além disso, os ídolas têm o alcance de incomodar no processo de instauração das ciências, uma vez que os homens não se disponham a combater esses ídolas. Por isso, a função primordial da teoria dos ídolas é conscientizar os homens das falsas noções que barram o caminho rumo a verdade.

Ídolas da Tribo: encontram-se na própria natureza humana e pertencem a espécie humana. Para Bacon os sentidos e o intelecto humanos são comparados a um espelho que distorce e corrompe aquilo que reflecte, o universo. Por isso essas faculdades, por si só, não são suficientes para interpretar a natureza, de forma a se aproximar de sua real essência (nossos sentidos e opiniões nos enganam com miragens e devaneios).

Ídolas da Caverna: são advindos de cada indivíduo quando preso a uma espécie de caverna pessoal. Isso se deve pois, os homens procuram as ciências em seus pequenos mundos, não no mundo maior, que é idêntico para todos os homens. Portanto, os ídolos da caverna perturbam o conhecimento, uma vez que mantém o homem preso em preconceitos e singularidades.

Ídolas do Foro ou do Mercado: são ídolas, que através das palavras, penetram no intelecto. Provenientes do intercâmbio entre os homens, os ídolas do mercado, existem devido o mau uso da fala. Como essa troca entre os homens se dá por meio da linguagem, os ídolas do mercado existem devido a uma inadequada atribuição aos nomes.

Ídolas do Teatro: esses ídolas, os falsos conceitos, são as ideologias; sejam quais forem as doutrinas, elas, por pretenderem representar o mundo em um sistema, actuariam como que um drama fictício, tornando o mundo, por esses sistemas, um teatro de ilusão. Essas ideologias são produzidas por engendramentos filosóficos, teológicos, políticos e científicos, todos, reforçando, ilusórios.

O conhecimento científico, para Bacon, tem por finalidade servir o homem e dar-lhe poder sobre a natureza. A ciência antiga, de origem aristotélica, que se assemelha a um puro passatempo mental, é por ele criticada. A ciência deve restabelecer o império do homem sobre as coisas. 

No que se refere ao Novum Organum, Bacon preocupou-se inicialmente com a análise de falsas noções (ídolas) que se revelam responsáveis pelos erros cometidos pela ciência ou pelos homens que dizem fazer ciência. É um dos aspectos mais fascinantes e de interesse permanente na filosofia de Bacon.