domingo, 21 de janeiro de 2018

Ritual Kupofia: praticas e significado entre muanis da cidade de Pemba


Autor: Jamal, Juma Saide

Dr. Adriano Biza, (Supervisor)

Resumo

Os rituais são uma prática regular em Moçambique, mesmo sofrendo restruturações na sua abordagem, os rituais permanecem como uma tradição enquanto entidade responsável pela preparação e condução dos indivíduos durante a vida. Neste trabalho o objectivo principal é compreender o significado e as práticas do ritual sendo um dos aspectos em que os intervenientes moldam suas identidades em contacto com várias realidades sociais. O ritual kupofia é uma prática de alinça matrimonial recorrente dentro da comunidade muani, que consiste no reconhecimento da relação entre o homem e a mulher diante das duas famílias. Os indivíduos dão a intender o significado do ritual kupofia como sendo uma cerimónia cultural e tradicional na comunidade muani, que serve para dar a legalidade da relação entre o homem e a mulher, esta consiste em dar aos indivíduos respeito, responsabilidade e consideração entre as duas famílias e a comunidade em geral. 
Os resultados de pesquisa permitem inferir que antigamente o ritual kupofia consistia pela parte dos pais a escolha do futuro parceiro ou parceira dos seus filhos, mas actualmente o processo sofreu transformações, normalmente já não são os pais que escolhem e decidem sobre a futuro parceiro ou parceira dos seus filhos. O estudo permite-nos igualmente desenvolver um raciocínio através do qual os aspectos de mudança na prática do ritual estão ligados a aquisição e interiorização de novos valores tais como, a escolha livre dos cônjuges, a monetarização da prática, diferencial etário dos cônjuges. No mesmo diapasão, há múltiplos espaços de interacção contemporânea como a expansão da rede escolar, globalização que moldou novos modelos e padrões comportamentais dos indivíduos.

Palavras-chave: Ritual, Tradição, Identidade Social.

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Viver na Terra, Trabalhar no Mar: um estudo sobre a prática de pesca com a rede de arrasto na comunidade de Quelelene, Angoche


Autor: Muhamade, Issufo

Dr. José Teixeira, (Supervisor)

Dr. Euclides Gonçalves, (Co- Supervisor)

Resumo

No presente estudo exploro a pesca artesanal na comunidade da Ilha de Quelelene. No estudo examino a interação entre pescadores que usam a rede de arrasto e as entidades de gestão de recursos marinhos. Para a recolha de dados efectuei trabalho de campo na comunidade da Ilha de Quelelene no distrito de Angoche, onde entrevistei os pescadores e autoridades de gestão pesqueira, realizei grupos focais com os pescadores, observei a prática de pesca e participei numa ronda pesqueira. Os dados que recolhi com base nas entrevistas e observações dos pescadores da comunidade da Ilha de Quelelene, mostram que existe uma interação entre os pescadores e as autoridades de gestão pesqueira na prática da pesca com a rede de arrasto. Os resultados do estudo permitiram-me concluir que os pescadores articulam práticas tradicionias de pesca e as medidas sugeridas pelas autoridades pesqueiras. No entanto, essa articulação é um mecanismo de convivência com essas práticas procurando, por um lado, manter as suas práticas tradicionais com uma dimensão cultural e carga simbólica muito forte, e por outro lado, cumprir com as políticas vigentes.

Palavras-chave:  Comunidades Pesqueiras, Pesca Artesanal.

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A metamorfose da cidade: vivências e práticas quotidianas dos espaços na “Sommershield II”


Autor: Manhiça, Anésio da Conceição Ribeiro

Dr. Jossias, Elísio Manuel Fernado (Supervisor)

Resumo

O presente relatório resulta de uma pesquisa etnográfica realizada entre os habitantes do bairro “Polana Caniço A” com enfoque nas vivências, num espaço que cruza categorias projectadas por instituições administrativas da cidade e noções locais sobre bairro. Os espaços do bairro “Polana Caniço A” encontram-se em franca transformação em consequências das novas habitações e instituições sociais que desafiam a forma como são pensadas e vividas as noções de espaço e de bairro. A evidência dessas transformações é desaparecimento de características associadas ao nome “Polana Caniço A” e emergência de características associadas ao nome “Sommershield II”. As experiências históricas de transformação dos espaços da “Polana Caniço A” que no passado recente conheceu outras transformações ao nível das estruturas de construção de habitações, fez emergir o nome “Sommershield II” como designação de um espaço dentro do bairro “Polana Caniço A” que é reivindicado como bairro e que desafia os critérios legais de organização e nomea.

Palavras-chave: Polana Caniço A, Espaço, Noção de Bairro, Sommershield II

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Francis Bacon e suas Idolas


Elaborado por: Hélder Luís

Trabalho apresentado na disciplina de "Introdução ao Método Etnográfico" no curso de licenciatura em Antropologia da Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique) no ano de 2016. 

Os ídolas segundo Francis Bacon são noções falsas que invadem o intelecto e dificultam o acesso à verdade. Além disso, os ídolas têm o alcance de incomodar no processo de instauração das ciências, uma vez que os homens não se disponham a combater esses ídolas. Por isso, a função primordial da teoria dos ídolas é conscientizar os homens das falsas noções que barram o caminho rumo a verdade.

Ídolas da Tribo: encontram-se na própria natureza humana e pertencem a espécie humana. Para Bacon os sentidos e o intelecto humanos são comparados a um espelho que distorce e corrompe aquilo que reflecte, o universo. Por isso essas faculdades, por si só, não são suficientes para interpretar a natureza, de forma a se aproximar de sua real essência (nossos sentidos e opiniões nos enganam com miragens e devaneios).

Ídolas da Caverna: são advindos de cada indivíduo quando preso a uma espécie de caverna pessoal. Isso se deve pois, os homens procuram as ciências em seus pequenos mundos, não no mundo maior, que é idêntico para todos os homens. Portanto, os ídolos da caverna perturbam o conhecimento, uma vez que mantém o homem preso em preconceitos e singularidades.

Ídolas do Foro ou do Mercado: são ídolas, que através das palavras, penetram no intelecto. Provenientes do intercâmbio entre os homens, os ídolas do mercado, existem devido o mau uso da fala. Como essa troca entre os homens se dá por meio da linguagem, os ídolas do mercado existem devido a uma inadequada atribuição aos nomes.

Ídolas do Teatro: esses ídolas, os falsos conceitos, são as ideologias; sejam quais forem as doutrinas, elas, por pretenderem representar o mundo em um sistema, actuariam como que um drama fictício, tornando o mundo, por esses sistemas, um teatro de ilusão. Essas ideologias são produzidas por engendramentos filosóficos, teológicos, políticos e científicos, todos, reforçando, ilusórios.

O conhecimento científico, para Bacon, tem por finalidade servir o homem e dar-lhe poder sobre a natureza. A ciência antiga, de origem aristotélica, que se assemelha a um puro passatempo mental, é por ele criticada. A ciência deve restabelecer o império do homem sobre as coisas. 

No que se refere ao Novum Organum, Bacon preocupou-se inicialmente com a análise de falsas noções (ídolas) que se revelam responsáveis pelos erros cometidos pela ciência ou pelos homens que dizem fazer ciência. É um dos aspectos mais fascinantes e de interesse permanente na filosofia de Bacon.