domingo, 22 de janeiro de 2017

DA MATTA, Roberto. “O Ofício do Etnólogo. Ou Como Ter Anthropological Blues”.


DA MATTA, Roberto. “O Ofício do Etnólogo. Ou Como Ter Anthropological Blues”. IN: Edson Nunes   (org.), A Aventura Sociológica. 

A importância de analisar e observar as condições do povo estudado, mantendo uma abordagem geral do objeto da pesquisa, esses aspectos devem ser tomados como base para o inicio de qualquer pesquisa. Seguindo esses pressupostos Da Matta percebe que existe uma semelhança muito grande entre o trabalho etnográfico e os ritos de passagem.

Quando Van Gennep analisou os ritos de passagem percebeu a existência de três dimensões fundamentais, e com o trabalho etnográfico não foi diferente.
A primeira, teórico-intelectual, é uma fase de preparação, quando ainda não estabelecemos contato com o grupo objeto da investigação. Conhecemos esse objeto apenas pelo abstrato e pelo vivenciado pelos outros. Seria o treinamento do olhar do antropólogo, construindo o seu embasamento teórico.
A segunda fase, em sequência, é o período prático, que antecede a pesquisa. Este é o momento em que o pesquisador planeja a sua estada no campo, desde a própria manutenção até o desprendimento emocional que precisa alcançar para desempenhar o seu ofício, incluindo as questões burocráticas para a realização da pesquisa.
A terceira etapa é a pessoal ou existencial, da experiência concreta e imediata, que propicia a síntese entre a experiência e a teoria, entre a realidade e o livro. 
Nessa fase pode ser encontrado aquilo que Roberto da Matta denomina de  antropological blues, que seria o lado emocional da pesquisa  e toda subjetividade entorno dos agentes sociais, apresentando assim um aspecto interpretativo da pesquisa.O antropólogo surge como tradutor ou interprete de dada cultura e dessa forma a solidão, as dificuldades de se integrar ao seu objeto de estudo, a saudade de entes queridos, aspectos próprios das fragilidades humanas, começam a se revelar.
O artigo consegue problematizar sobre o oficio do etnólogo, na qual a liminaridade do estranhamento apresenta um dinamismo de não fazer parte daquela determinada cultura, porém o fato de está vivenciando essas práticas é necessário um esforço do antropologo em transformar o exótico em familiar e o familiar no exótico.

Entre as ciências do Homem, a Antropologia é aquela onde necessariamente se estabelece uma ponte entre dois universos de significação, de subjetividades. A antropologia tem se preocupado cada vez mais com o rigor objetivo da pesquisa de campo, enquanto são inegáveis o lado subjetivo desta e o caráter fenomenológico da disciplina.
Depositar no lado obscuro o que há de mais importante é um modo envergonhado de não assumir a face humana da disciplina, por medo de não sentir anthropological blues, por meio do qual se pretende incorporar, de modo mais sistemático, os aspectos interpretativos do oficio de etnólogo.





Nenhum comentário:

Postar um comentário