sábado, 17 de junho de 2017

Negros da Terra - Índios e Bandeirantes nas Origens


Negros Brasis 
Ronaldo Vainfas

John Monteiro
Companhia das Letras, 300 págs

Elaborado por: Eduardo Marculino

Um dos aspectos mais surpreendentes das ciências humanas produzidas no Brasil é o relativo silêncio dos historiadores em relação à questão indígena. Silêncio em tudo contrastante com o trabalho de antropólogos, sociólogos e etnólogos, brasileiros ou estrangeiros, desde há muito dedicados a estudar os índios em perspectiva etno-histórica. Bastaria citar, à guisa de exemplo, a magnífica obra de Alfred Métraux, autor, entre outros livros, de "A Religião dos Tupinambás", os estudos clássicos de Egon Schaden, o importantíssimo "A Organização Social dos Tupinambás", de Florestan Fernandes e, mais recentemente, os estudos de Eduardo Viveiros de Castro e de Manuela Carneiro da Cunha, organizadora da recente "História dos Índios no Brasil".

No campo dos historiadores, sem considerar os estudos novecentistas do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (e muitos historiadores do século passado, inclusive Varnhagen, detratavam muito os índios, apesar de estudar suas culturas e línguas), prevaleceu mesmo o silêncio. Entre as honrosas exceções figurariam autores como Capistrano de Abreu, que soube perceber a importância do índio no processo colonizatório e na formação cultural brasileira, e, como sempre, o grande Sérgio Buarque de Holanda, sobretudo em seu "Caminhos e Fronteiras", recentemente reeditado pela Companhia das Letras. Dignos de menção são ainda o estudo clássico de Alexander Marchant, "Do Escambo à Escravidão" (anos 40) e o instigante livro de Luis Felipe Baeta Neves, "O Combate dos Soldados de Cristo na Terra dos Papagaios", livro sobre as idéias e práticas missionárias dos jesuítas no século 16.

O certo, porém, é que os índios têm sido pouco estudados pela historiografia brasileira, a não ser como objeto, jamais como sujeito da nossa história. O índio como alvo da catequese jesuítica, o índio como feroz obstáculo ao avanço da colonização, o índio como mão-de-obra, eis as maneiras mais frequentes do tratamento da questão indígena pelos historiadores. Raramente se aventuram a estudar as culturas indígenas e quase nunca utilizam etnônimos (tupinambá, goitacá, aimoré etc.), preferindo abrigar-se na vaga expressão índio, palavra de óbvia origem colonialista.
O livro de John Monteiro, "Negros da Terra", se não rompe totalmente com esta postura reificadora predominante entre os historiadores, certamente se insurge contra o silêncio da historiografia e põe abaixo vários mitos e estereótipos nela consagrados acerca do papel desempenhado pelos índios na colonização do Brasil.

Baseado em tese de doutoramento defendida em 1985 na Universidade de Chicago, o livro é antes de tudo um sólido exemplo de pesquisa documental. Monteiro realmente devassou inúmeros arquivos nacionais, sobretudo de São Paulo, coligindo vastíssima documentação cartorária, eclesiástica e epistolar. Pesquisou também importantes arquivos estrangeiros, sobretudo em Portugal (o Arquivo Ultramarino, a Biblioteca da Ajuda) e na Itália, a exemplo do Archivum Romanum Societatis Iesu, em Roma. E não faltou, nem poderia faltar, o exame da numerosa crônica e tratadística impressa sobre seu tema de investigação.

"Negros da Terra" é, pois, um trabalho consistente, muito atualizado em termos bibliográficos e dotado, ainda, de um título criativo. Negros da terra ou negros brasis eram, com efeito, expressões utilizadas pelos colonos luso-brasileiros desde o século 16 para designar genericamente as várias nações indígenas, diferenciando-as das africanas, então denominadas, com igual generalidade, de negros da Guiné. Trata-se, a bem dizer, de nomenclatura colonialista, mas que serve perfeitamente aos objetivos do autor.

O livro se dedica exatamente a resgatar o papel central que os índios desempenharam na história de São Paulo durante os séculos 16 e 17, tempo em que a região nada mais era do que uma periferia da América Portuguesa. John Monteiro, começa, assim, a desmistificar a idéia de que o bandeirantismo paulista tenha contribuído decisivamente para o alargamento territorial e povoamento do interior brasileiro. "Muito pelo contrário: ao invés de contribuírem diretamente para a ocupação do interior pelo colonizador, as incursões paulistas concorreram antes para a devastação de inúmeros povos nativos." O bandeirantismo foi, na realidade, uma ação tragicamente despovoadora.

Profissão de fé feita à partida, Monteiro vai derrubando, uma a uma, com grande perícia e apoio documental, antigas "verdades consagradas". Demonstra, por exemplo, que a verdadeira riqueza do sertão eram mesmo os índios, objeto da cobiça dos colonos ou do afã salvacionista missionário que, aliás, não excluía a utilização do trabalho nativo nos aldeamentos. O trabalho cativo ou administrado dos índios relacionou-se, porém, como indica o autor, com um "projeto coletivo de desenvolvimento", sobretudo no governo de D. Francisco de Sousa (1591-1601). Dedicou-se o governador à busca de metais e pedras preciosas, busca estimulada pela lenda tupiniquim de Itaberaba-açu, "uma serra resplandecente que, para muitos, localizava-se nas cabeceiras do rio São Francisco".

Mais que isso, D. Francisco pretendia articular os setores de mineração, agricultura e indústria, todos sustentados por trabalhadores indígenas, inspirando-se talvez no modelo da América Hispânica. Tudo isto malogrou, à falta do achamento de uma Potosi em terra brasílica e face ao crescimento da lavoura comercial. O cativeiro indígena, no entanto, seguiu firme, fornecendo a base de trabalhadores para a economia regional numa época em que, no litoral, a escravidão africana ganhava vulto.

Monteiro acompanha a expansão bandeirante até o Guairá, examinando a competição entre luso-brasileiros, paraguaios e jesuítas pela mão-de-obra indígena. E não deixa de relativizar, a propósito, a idéia de que os paulistas teriam investido contra as reduções porque elas ofereciam mão-de-obra já disciplinada pelos jesuítas. Na verdade, mostra o autor que os portugueses se interessavam pelos Guarani desde o século 16, justamente pela notícia que tinham de sua eficiente agricultura. Não é de surpreender, portanto, que os paulistas assaltassem prioritariamente as aldeias não controladas pelos jesuítas, mesmo depois da chegada dos padres ao Guairá.

Capítulo muito inovador do livro é, sem dúvida, o intitulado "Celeiro do Brasil". É nele que nosso historiador põe abaixo a imagem de uma escravidão indígena irrelevante no século 17, bem como a de uma capitania de São Paulo absolutamente pobre e quase isolada dos setores de ponta da colônia. Nas palavras do autor, "o surgimento de uma agricultura comercial no planalto, sobretudo com a produção do trigo, pode explicar muito da constituição da sociedade colonial na região, uma vez que a presença de um número elevado de cativos índios possibilitou a articulação da economia do planalto com a do litoral, redundando, ao mesmo tempo, na composição desigual da riqueza na sociedade local".

"Negros da Terra" é, por tudo isso, livro de grande importância. Ilumina menos, a bem da verdade, o que significa o colonialismo e o cativeiro para os próprios índios do que os sentidos do bandeirantismo e o funcionamento ancilar da economia paulista apoiada no trabalho dos nativos. Mas não deixa de apontar, com máxima ênfase, o que foi o "despovoamento" perpetrado pela expansão bandeirante, heróica para uns, absolutamente trágica para as populações locais.

RONALDO VAINFAS é doutor em história pela USP e professor titular do departamento de história da UFF (Universidade Federal Fluminense)

Antropologia e Lixo

Textos e Contextos Etnográficos 


Abaixo vai textos etnográficos para vocês, se divertem, se basearem e fazer um ótimo trabalho de etnografia. A leitura é optima, os textos podem servir para auxiliar no desenvolvimento de vosso trabalho futuramente.

01.  Etnografia no fazer Antropológico

02. O ofício de Etnólogo, ou como Ter "Anthropological Blues"- Roberto DaMatta




04. Envolvendo Satisfação e Saúde: http://www.scielo.br/pdf/csc/v7n3/13034.pdf








12. Etnografia Religiosa: http://bmgil.tripod.com/vp01.htm


Ficha de Leitura - Aprender Antropologia LaPlatine


Ficha de Leitura - Aprender Antropologia LaPlatine
A Pré-história Da Antropologia

Capitulo 1

Elaborado por: Hélder Luís 

A génese da reflecção antropológica contemporânea descoberta do Novo Mundo. O Renascimento explora espaços até então desconhecidos e começa a elaborar discursos sobre os habitantes que povoam aqueles espaços. A grande questão que e então colocada, e que nasce desse primeiro confronto visual com a alteridade, e a seguinte: aqueles que acabaram de serem descobertos pertencem a humanidade? O critério essencial para saber se convém atribuir-lhes um estatuto humano e, nessa época, religioso: O selvagem tem uma alma? O pecado original também lhes diz respeito? – Questão capital para os missionários, já que da resposta irá depender o fato de saber se e possível trazer-lhes a revelação. 

Nessa época e que começam a se esboçar as duas ideologias concorrentes, mas das quais uma consiste no simétrico invertido da outra: a recusa do estranho apreendido a partir de uma falta, e cujo corolário e a boa consciência que se tem sobre si e sua sociedade.

Ora, os próprios termos dessa dupla posição estão colocados desde a metade do século XIV: no debate, que se torna uma controvérsia pública, que durara vários meses (em 1550, na Espanha, em Valladolid), e que opõe o dominicano Las Casas e o jurista Sepulvera.

Las Casas:
“Aqueles que pretendem que os índios são bárbaros, responderemos que essas pessoas têm aldeias, vilas, cidades, reis, senhores e uma ordem política que, em alguns reinos, é melhor que a nossa. (...) Esses povos igualavam ou até superavam muitas nações e uma ordem politica que, em alguns reinos, é melhor que a nossa. (...) Esses povos igualavam ou até superavam muitas nações do mundo conhecidas como policiadas e razoáveis, e não eram inferiores a nenhuma delas. Assim, igualavam-se aos gregos e os romanos, e até, em alguns de seus costumes, os superavam. Eles superavam também a Inglaterra, a França, e algumas de nossas regiões da Espanha. (...) Pois a maioria dessas nações do mundo, senão todas, foram muito mais pervertidas, irracionais e depravadas, e deram mostra de muito menos prudência e sagacidade em sua forma de se governarem e exercerem as virtudes morais. Nós mesmos fomos piores, no tempo de nossos ancestrais e sobre toda a extensão de nossa Espanha, pela barbárie de nosso modo de vida e pela depravação de nossos costumes”.
Sepulvera:
“Aqueles que superam os outros em prudência e razão, mesmo que não sejam superiores em força física, aqueles são, por natureza, os senhores; ao contrário, porém, os preguiçosos, os espíritos lentos, mesmo que tenham as forças físicas para cumprir todas as tarefas necessárias, são por natureza servos. E é justo e útil que sejam servos, e vemos isso sancionado pela própria lei divina. Tais são as nações bárbaras e desumanas, estranhas `a vida civil e aos costumes pacıficos. E será sempre justo e conforme o direito natural que essas pessoas estejam submetidas ao império de príncipes e de nações mais cultas e humanas, de modo que, graças `a virtude destas e a prudência de suas leis, eles abandonem a barbárie e se conformem a uma vida mais humana e ao culto da virtude. E se eles recusarem esse império, pode-se impô-lo pelo meio das armas e essa guerra será justa, bem como o declara o direito natural que os homens honrados, inteligentes, virtuosos e humanos dominem aqueles que não têm essas virtudes”.
          Ora, as ideologias que estão por trás desse duplo discurso, mesmo que não se expressem mais em termos religiosos, permanecem vivas hoje, quatro séculos após a polémica que opunha Las Casas a Sepulvera.
A Figura Do Mau Selvagem E Do Bom Civilizado

A extrema diversidade das sociedades humanas raramente apareceu aos homens como um fato, e sim como uma aberração exigindo uma justiçarão. A antiguidade grega designava sob o nome de bárbaro tudo o que não participava da helenidade (em referencia a inarticulação do canto dos pássaros oposto a significacao da linguagem humana), o Renascimento, os séculos XVII e XVIII falavam de naturais ou de selvagens (isto ´e, seres da floresta), opondo assim a animalidade a` humanidade. O termo primitivos ´e que triunfara´ no seculo XIX, enquanto optamos preferencialmente na época actual pelo de subdesenvolvidos.

A pré-história da Antropologia

A toda a humanidade, e em especial, a mais característica dos “selvagens”. Entre os critérios utilizados a partir do seculo XIV pelos europeus para julgar se convém conferir aos índios um estatuto humano, além do critério religioso do qual já falamos, e que pede, na configuracacao na qual nos situamos, uma resposta negativa (“sem religião nenhuma”, são mais diabos), citaremos:
• A aparência física: eles estão nus ou “vestidos de peles de animais”; • os comportamentos alimentares: eles ”comem carne crua”, e é todo o imaginário do canibalismo que ira aqui se elaborar; • a inteligência tal como pode ser apreendida a partir da linguagem: eles falam “uma língua ininteligível”.
Assim, não acreditando em Deus, não tendo alma, não tendo acesso a linguagem, sendo assustadoramente feio e alimentando-se como um animal, o selvagem ´e apreendido nos modos de um bestiário. E esse discurso sobre a alteridade, que recorre constantemente a metáfora zoológica, abre o grande leque das ausências: sem moral, sem religião, sem lei, sem escrita, sem Estado, sem consciência, sem razão, sem objectivo, sem arte, sem passado, sem futuro. Cornelius de Pauw acrescentara ate, no seculo XVIII: “sem barba”, sem sobrancelhas, sem pelos, sem espırito sem ardor para com sua fêmea”.
Assim”, escreve Lévi-Strauss (1961), Ocorrem curiosas situações onde dois interlocutores dão-se cruelmente a réplica. Nas Grandes Antilhas, alguns anos após a descoberta da América, enquanto os espanhóis enviavam comissões de inquérito para pesquisar se os indígenas possuíam ou não uma alma, estes empenhavam-se em imergir brancos prisioneiros a fim de verificar, por uma observação demorada, se seus cadáveres eram ou não sujeitos a putrefacção. Especialmente Hans Staden, V´eritable Histoire et Descriptiou d’un Pays Habit´e par des Hommes Sauvages, Nus. F´eroces et Anthropophages, 1557, reed. Paris, A. M. JVl´etaili´e, 1979. Essa falta pode ser apreendida através de duas variantes: I) não têm, irremediavelmente, futuro e não temos realmente nada a esperar dele (Hegel); 2) ´e possível fazê-los evoluir. Pela acção missionária (a partir século XVI).
Opiniões desse tipo são inumeráveis, e passaram tranquilamente para nossa época. No século XIX, Stanley, em seu livro dedicado a` pesquisa de Livingstone, compara os africanos aos ”macacos de um jardim zoológico”, e convidamos o leitor a ler ou reler Franz Fanon (1968), que nos lembra o que foi o discurso colonial dos franceses na Argélia.
Mais dois textos irão deter mais demoradamente nossa atenção, por nos parecerem muito reveladores desse pensamento que faz do selvagem o inverso do civilizado. São as Pesquisas sobre os Americanos ou Relatos Interessantes para servir a História da Espécie Humana, de Cornelius de Pauw, publicado em 1774, e a famosa Introdução a Filosofia da História, de Hegel.
De Pauw nos propõe suas reflexões sobre os índios da América do Norte. Sua convicção e a de que sobre estes lílios a influencia da natureza e total, ou mais precisamente negativa. Se essa raça inferior não tem história e esta pura sempre condenada, por seu estado ”degenerado”, a permanecer fora do movimento da História, a razão deve ser atribuída ao clima de uma extrema umidade:
Deve existir, na organização dos americanos, uma causa qualquer que embrutece sua sensibilidade e seu espírito. A qualidade do clima, a grosseria de seus humores, o vício radical do sangue, a constituição de seu temperamento excessivamente reumático pode ter diminuído o tom e o saracoteio dos nervos desses homens embrutecidos.
Eles têm, prossegue Pauw, um temperamento tão húmido quanto o ar e a terra onde vegetam que explica que eles não tenham nenhum desejo sexual. Em suma, são infelizes que suportam todo o peso da vida agreste na escuridão das florestas, parecem mais animais do que vegetais. Após a degenerescência ligada a um “vício de constituição física”, Pauw chega a degradação moral. E a quinta parte do livro, cuja primeira seção ´e intitulada: ”O génio embrutecido dos Americanos”.
Essa separação entre um estado de natureza concebido por Pauw como irremediavelmente imutável, e o estado de civilização, pode ser visualizado num mapa-mundo. No século XVIII, a enciclopédia efectua dois traçados: um longitudinal, que passa por Londres e Paris, situando de um lado a Europa, a Africa e a Asia, de outro a América, e um latitudinal dividindo o que se encontra ao norte e ao sul do equador. Mas, enquanto para Buon, a proximidade ou o afastamento da linha equatorial são explicativos não apenas da constituição física mas do moral dos povos, o autor das Pesquisas Filosoficas sobre os Americanos escolhe claramente o critério latitudinal, fundamento aos seus olhos da distribuição da população mundial, distribuição essa não cultural e sim natural da civilização e da barbárie: ”A natureza tirou tudo de um hemisfério deste globo para dá-lo ao outro”. A diferença entre um hemisfério e o outro (o Antigo e o Novo Mundo) ´e total, tão grande quanto poderia ser e quanto podemos imaginá-la”: de um lado, a humanidade, e de outro, a ”estupidez na qual vegetam “esses seres indiferenciados:
“Igualmente bárbaros, vivendo igualmente da caça e da pesca, em países frios, estéreis, cobertos de florestas, que desproporção se queria imaginar entre eles? Onde se sente as mesmas necessidades, onde os meios de satisfaze-los São os mesmos, onde as influencias do ar são tão semelhantes, e possível haver contradição nos costumes ou variações nas ideias?”
Pauw responde, evidentemente, de forma negativa. Os indígenas americanos vivem em um estado de embrutecimento geral. Tão degenerados uns quanto os outros, seria em vão procurar entre eles variedades distintivas daquilo que se pareceria com uma cultura e com uma história.

A figura do mau selvagem e do bom civilizado

Os julgamentos que acabamos de relatar – que estão, notam, em ruptura com a ideologia dominante do século XVIII, da qual falaremos mais adiante, e em especial com o Discurso sobre a Desigualdade, de Rousseau, publicado vinte anos antes – por excessivos que sejam, apenas radicalizam ideais compartilhadas por muitas pessoas nessa época. Ideais que serão retomadas e expressas nos mesmos termos em 1830 por Hegel, o qual, em sua Introdução a Filósofa da História, nos expõe o horror que ele ressente frente ao estado de natureza, que e o desses povos que jamais-ascenderão a “história a consciência de si”.
Tudo, na Africa, e nitidamente visto sob o signo da falta absoluta: os “negros” não respeitam nada, nem mesmo eles próprios, já que comem carne humana e fazem comércio da carne de seus próximos. Vivendo em uma ferocidade bestial inconsciente de si mesma, em uma selvageria em estado bruto, eles não tem moral, nem instituições sociais, religião ou Estado. Petrificados em uma desordem inexorável, nada, nem mesmo as forças da colonização, poderá nunca preenchermos o fosso que os separa da História universal da humanidade.

Capítulo 2. O Século XVIII

A invenção do conceito de homem

Se durante o Renascimento esboçou-se, com a exploração geografica de continentes desconhecidos, a primeira interrogação sobre a existência múltipla do homem, essa interrogação fechou-se muito rapidamente no século seguinte, no qual a evidencia do cogito, fundador da ordem do pensamento clássico, exclui da razão o louco, a criança, o selvagem, enquanto figuras da anormalidade.
Será preciso esperar o século XVIII para que se constitua o projecto de fundar uma ciência do homem, isto e, de um saber não mais exclusivamente especulativo, e sim positivo sobre o homem. Enquanto encontramos no século XVI elementos que permitem compreender a pré-história da antropologia, enquanto o século XVII (cujos discursos não nos são mais directamente acessíveis hoje) interrompe nitidamente essa evolução, apenas no seculo XVIII e que entramos verdadeiramente, como mostrou Michel Foucault (1966), na modernidade. Apenas nessa época, e não antes, e que se pode apreender as condições históricas, culturais e epistemológicas de possibilidade daquilo que vai se tornar a antropologia.
Antes do final do século XVIII, escreve Fou-cauilt, o homem não existia. Como também o poder da vida, a fecundidade do trabalho ou a densidade histórica da linguagem. ´E uma criatura muito recente que o demiurgo do saber fabricou com suas próprias mãos, há menos de duzentos anos (...) Uma coisa em todo caso e certa, o homem não e o mais antigo problema, nem o mais constante que tenha sido colocado ao saber humano. O homem e uma invenção e a arqueologia de nosso pensamento mostra o quanto e recente.

Capítulo 2. O seculo XVIII

Talvez seja o seu fim

O projecto antropológico (e não a realização da antropologia como a entendemos hoje) supõe:
1) A construção de um certo numero de conceitos, começando pelo próprio conceito de homem, não apenas enquanto sujeito, mas enquanto objecto do saber; abordagem totalmente inédita, já que consiste em introduzir dualidade característica das ciências exactas (o sujeito observante e o objecto observado) no coração do próprio homem;
2) A constituição de um saber que não seja apenas de reflexao, e sim de observação, isto e, de um novo modo de acesso ao homem, que passa a ser considerado em sua existência concreta, envolvida nas determinações de seu organismo, de suas relações de produção, de sua linguagem, de suas instituições, de seus comportamentos. Assim começa a constituição dessa positividade de um saber empírico (e não mais transcendental) sobre o homem enquanto ser vivo (biologia), que trabalha (economia), pensa (psicologia) e fala (linguística). Montesquieu, em O Espírito das Leis (1748), ao mostrar a relação de interdependência que e a dos fenómenos sociais, abriu o caminho para Saint-Simon que foi o primeiro (no século seguinte) a falar em uma “ciência da sociedade”. Da mesma forma, antes dessa época, a linguagem, quando tomada em consideração, era objecto de filosofia ou exegese. Tornou-se paulatinamente (com de Brosses, Rousseau) o objecto especıfico de um saber cientıfico (ou, pelo menos, de vocação cientıfica);
3) Uma problemática essencial: a da diferença. Rompendo com a convicção de uma transparência imediata do cogito, coloca-se pela primeira vez no século XVIII a questão da relação ao impensado, bem como a dos possíveis processos de reapropriação dos nossos condicionamentos fisiologicos, das nossas relações de produção, dos nossos sistema de organização social. Assim, inicia-se uma ruptura com o pensamento do mesmo, e a constituição da ideia de que a linguagem nos precede, pois somos antes exteriores a ela. Ora, tais reflexoes sobre os limites do saber, assim como sobre as relações de sentido e poder (que anunciam o fim da metafísica) eram inimagináveis antes. A sociedade do século XVIII vive uma crise da identidade do humanismo e da consciência europeia. Parte de suas elites busca suas referências em um confronto com o distante.
Em 1724, ao publicar Os Costumes dos Selvagens Americanos Comparados aos Costumes dos Primeiros Tempos, Lafitau se da´ por objectivo o de fundar uma “ciência dos costumes e hábitos”, que, além da contingência dos fatos particulares, poderá servir de comparação entre várias formas de humanidade. Em 1801, Jean Itard escreve Da Educação do Jovem Selvagem do Aveyron. Ele se interroga sobre a comum humanidade a qual pertencem o homem da civilização em que nos transportamos e o homem da natureza, a crian¸ca-lobo.1 Mas foi Rousseau quem traçou, em seu Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade, o programa que se tornará o da etnologia clássica, no seu campo tema´tico2 tanto quanto na sua abordagem: a indução de que falaremos agora;
4) Um método de observação e análise: o método indutivo. Os grupos sociais (que começam a ser comparados a organismos vivos, podem ser considerados como sistemas “naturais” que devem ser estudados empiricamente, a partir do observação de fatos, a fim de extrair princípios gerais, que hoje chamaríamos de leis.
Esse naturalismo, que consiste numa emancipação definitiva em relação ao pensamento teológico, impõe-se em especial na Inglaterra,3 com Adam Smith e, antes dele, David Hume, que escreve em 1739 seu Tratado sobre a Natureza Humana, cujo tıtulo completo e: “Tratado sobre a natureza Humana: tentativa de introdução¸ ao de um método experimental de raciocínio para o estudo de assuntos de moral”. Os filosofos ingleses colocam as premissas de todas as pesquisas que procurarão fundar, no século XVIII, uma moral natural, um “direito natural”, ou ainda uma “religião natural”.
Esse projecto de um conhecimento positivo do homem – isto e, de um estudo de sua existência empírica considerada por sua vez como objecto do saber – constitui um evento considerável na história da humanidade.

Capitulo 2. O Século XVIII

Constitutivo da modernidade na qual, a partir dessa época, entramos. A fim de avaliar melhor a natureza dessa verdadeira revolução do pensamento – que instaura uma ruptura tanto com o “humanismo” do Renascimento como com o “racionalismo” do século clássico - examinemos de mais perto o que mudou radicalmente desde o século XVI.
1) Trata-se em primeiro lugar da natureza dos objectos observados. Os relatos dos viajantes dos séculos XVI e XVII eram mais uma busca cosmografica do que uma pesquisa etnografica. Afora algumas incursões tímidas para área das inclinações e dos “costumes”, o objecto de observação, nessa época era mais o céu, a terra, a fauna e a flora, do que o homem em si, e, quando se tratava deste, era essencialmente o homem físico que era tomado em consideração. Ora, o século XVIII traça o primeiro esboço daquilo que se tornara´ uma antropologia social e cultural, constituindo-se inclusive, ao mesmo tempo, tomando como modelo a antropologia física, e instaurando uma ruptura do monopólio desta (especialmente na França).
2) Simultaneamente, o destaque se desloca pouco a pouco do objecto de estudo para a actividade epistemológica, que se torna cada vez mais organizada. Os viajantes dos séculos XVI e XVII colectavam “curiosidades”. Espíritos curiosos reuniam colecções que iam formar os famosos ”gabinetes de curiosidades”, ancestrais dos nossos museus contemporâneos. No século XVIII, a questão e: como colectar? E como dominar em seguida o que foi colectado? Com a História Geral das Viagens, do padre Prevost (1746), passa-se da colecta dos materiais para a colecção das colectas. Não basta mais observar, e preciso processar a observação. Não basta mais interpretar o que e observado, e preciso interpretar interpretações. E desse desdobramento, isto e, desse discurso, que vai justamente brotar uma actividade de organização e elaboração. Em 1789, Chavane, o primeiro, dará a essa actividade um nome. Ele a chamará: a etnologia.
Finalmente, e no século XVIII que se forma o par do viajante e do filosofo: o viajante: Bougainville, Maupertuis, La Condamine, Cook, La P´erouse.
Nossas missões cientıficas contemporâneas; o filosofo Buon, Voltaire, Rousseau, Diderot (em especial o seu Suplemento a Viagem de Bougainville) “esclarecendo” com suas reflexoes as observações trazidas pelo viajante.
As Considerações sobre os Diversos Métodos a Seguir na Observação dos Povos Selvagens, de De Gerando (1800) são, quanto a isso, exemplares. Primeira metodologia da viagem, destinada aos pesquisadores de uma missão nas “Terras Austrais”, esse texto e uma crıtica da observação selvagem do selvagem, que procura orientar o olhar do observador. O cientista naturalista deve ser ele próprio testemunha ocular do que observa, pois a nova ciência – qualificada de ciência do homem ou ciência natural e uma ciência de observação, devendo o observador participar da própria existência dos grupos sociais observados.
Rousseau: Suponhamos um Montesquieu, um Buon, um Diderot, um d’Alembert, um Condillac, ou homens de igual capacidade, viajando para instruir seus compatriotas, observando como sabem faze-lo a Turquia, o Egito, a Barbaria. Suponhamos que esses novos Hercules, de volta de suas andanças memoráveis, fizessem a seguir a história natural, moral e polıtica do que teriam visto, veríamos nascer de seus escritos um mundo novo, e aprenderíamos assim a conhecer o nosso. Bougainville: Sou viajante e marinheiro, isto e, um mentiroso e um imbecil aos olhos dessa classe de escritores preguiçosos e soberbos que, na sombra de seu gabinete, filosofam sem fim sobre o mundo e seus habitantes, e submetem imperiosamente a natureza a suas imaginações.
Porem, o projecto de De Gerando não foi aplicado por aqueles a que se destinava directamente, e não será, por muito tempo ainda, levado em conta. Se esse programa que consiste em ligar uma reflexao organizada a uma observação sistemática, não apenas do homem físico, mas também do homem social e cultural, não pode ser realizado, e porque a época ainda não o permitia. O final do século XVIII teve um papel essencial na elaboração dos fundamentos de uma ciência humana. Não podia ir mais longe, e não poderíamos credita-lo aquilo que só será possível um século depois.
Mais especialmente, o obstáculo maior ao advento de uma antropologia cientıfica, no sentido no qual a entendemos hoje, está ligado, a meu ver, a dois motivos essenciais.
1                              A distinção entre o saber cientıfico e o saber filosofico, mesmo sendo abordada, não e de forma alguma realizada. Evidentemente, o conceito da unidade e universalidade do homem, que e pela primeira vez claramente afirmado, coloca as condições de produção de um novo saber sobre o homem. Mas não leva isso facto a constituição de um saber positivo. No final do século XVIII, o homem interroga-se: sobre a natureza, mas não há biologia ainda (será preciso esperar Cuvier); sobre a produção e reparti-tição das riquezas, mas ainda não se trata de economia (Ricardo); sobre seu discurso mas isso não basta para elaborar uma filosofia (Bopp), muito menos uma linguística.
3)     Os cientistas da expedição conduzida por Bodin não eram de forma alguma etnógrafos, e sim médicos, zoólogos, mineralogos, e os objectos etnograficos que recolheram não foram sequer depositados no Museu de Historia Natural de Paris, e sim dispersados em colecções particulares. O próprio Gerando, observador dos povos selvagens em 1800, torna-se visitante dos pobres. O que mostra a prontidão de uma passagem possível entre o estudo dos indígenas e a ajuda aos indigentes, mas sobretudo, nessa época, uma certa ausência de distinção entre a antropologia principiante e a “filantropia”. Notemos finalmente que, publicado em 1800, o memorie de Gerando só foi reeditado- na França em 1883. E o primeiro museu etnografico da Franca foi fundado apenas cinco anos antes (em Paris, no Trocadero). Sendo depois substituído pelo actual Museu do Homem.
4)     O conceito de homem tal como e utilizado no século das luzes permanece ainda muito abstracto, isto e, rigorosamente filosofico. Estamos na impossibilidade de imaginar o que consideramos hoje como as próprias condições epistemológicas da pesquisa antropológica. De fato, para esta, o objecto de observação não e o “homem”, e sim indivíduos que pertencem a uma época e a uma cultura, e o sujeito que observa não e de forma alguma o sujeito da antropologia filosofica, e sim um outro indivíduo que pertence ele próprio a uma época e a uma cultura.

O discurso antropológico do século XVIII e inseparável do discurso histórico desse período, isto e, de sua concepção de uma historia natural, liberada da teologia e animando a marcha das sociedades no caminho de um progresso universal. Restara um passo considerável a ser dado para que a antropologia se emancipe deste pensamento e conquiste finalmente sua autonomia. Paradoxalmente, esse passo será dado no século XIX (em especial com Morgan).

domingo, 4 de junho de 2017

Conceitos de Saúde e Doença ao Longo da História


Conceitos de saúde e doença ao longo da história sob o olhar epidemiológico e antropológico
Elaborado por Iracema Freitas

Backes, M.T.S, et al, Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 jan/mar; 17(1):111-7.

Os conceitos de saúde e doença passaram por muitas variações no decorrer da História, sempre relacionados com os contextos vividos e a influência que cada época teve sobre a perspectiva do adoecimento e do estar saudável. Nessa perspectiva, foi se desenvolvendo um modelo de assistência à saúde voltado para a doença, para o tecnicismo e em que as relações são impessoais, baseadas apenas no contato breve e de certo modo superficial. Tomando por base uma revisão teórica da literatura a respeito dos conceitos de saúde e doença ao longo da História, nas perspectivas epidemiológica e antropológica, esse artigo apresenta a questão sanitária com enfoque na saúde.

Em toda História, o processo saúde e doença foi evoluindo e se adequando às influencias sociais vigentes, refletindo costumes e ideias de médicos e teóricos de seu tempo. Na Antiguidade, surge com Galeno a ideia de saúde como equilíbrio entre as partes primárias do corpo, a crença de que as doenças seriam provocadas por elementos naturais ou sobrenaturais (influência da filosofia religiosa). Na medicina hindu e chinesa, o desequilíbrio do organismo e para os gregos os fatores externos causariam doenças (ideia de contágio). No medievo a doença retoma o caráter religioso, mas com as epidemias retorna-se  temor do contágio (envenenamento das águas por leprosos, bruxarias, conjugação dos astros e outros). Era comum atribuir aos entes míticos a causa das doenças. Pouco se sabia a respeito da verdadeira etiologia das doenças, o que fazia com que as crenças e o misticismo fossem fundamentais para compreensão dos elementos originadores das doenças e o seu tratamento.

No renascimento, estudos empíricos  buscavam as matérias causadoras do contagio, surgindo a teoria miasmática.  Essa teoria pode ser entendida como a influência dos odores venenosos que ao serem levados pelos ventos contaminavam o ar, hoje entende-se como uma teoria ultrapassada. A medicina social (séc.XVII ao XX), abriu espaço para prática médica individual e criou condições de salubridade adequadas a nova sociedade. Já a bacteriologia (séc.XIX) com as vacinas e produtos químicos para combater os agentes etiológicos das doença, também desenvolveu um trabalho mais especifico e menos generalizado, direcionado para uma patologia celular. Com o fortalecimento da biologia,  a fisiologia, a bacteriologia e o desenvolvimento de pesquisas a medicina se torna uma ciência experimental. Na Idade Moderna há uma redução, objetividade , fragmentação do conhecimento do corpo,  biologização da saúde e o equilíbrio orgânico, traduzindo os acontecimentos de formas abstratas aos enquadramentos, demonstráveis e calculáveis.

Na contemporaneidade, saúde e doença no indivíduo como sistema vivo, passam a ser compreendidas nas suas relações de subjetividade, e não apenas nas dimensões biológicas. Os conceitos de normalidade e patologia ganham flexibilidade e passam a incorporar outras perspectivas a respeito das influencias que uma realidade social e histórica podem exercer sobre o processo saúde-doença. Agora, o que se pretende é observar os contextos vulneráveis e promover a saúde respaldando-se nos acontecimentos  que afetam individual e coletivamente.

Na epidemiologia o foco está nas causas das doenças, na dimensão biológica e reação favorável do organismo aos estímulos externos. As dimensões subjetivas do indivíduo (a psicopatológica e psicossomática) são desconsideradas por não terem precisão diagnóstica, garantida pelos componentes laboratoriais. Isso leva ao pensamento de que a doença fica reduzida ao dados fisiológicos, e o trabalho fica restrito ao reconhecimento da doença já instalada. Na ótica antropológica, a doença não se reduz a plano individual e biológico, voltando-se para saúde, condições de vida e incorporando também a visão dos usuários dos serviços de saúde. Assim, saúde e doença são construídas a partir de uma herança cultural e de uma história social, em que inúmeras variáveis podem interferir e comprometer o estado de normalidade do indivíduo.

A influência cultural e social sempre se fez presente no conceito de saúde e doença no decorrer da História. Mas, apesar de toda precisão científica, não se pode reduzir o indivíduo a um organismo vivo biologicamente previsível, nem desconsiderar toda forma de influência externa (econômica, familiar, de hábitos e outras) que resulta da dinâmica entre o sujeito, o seu meio e o resultado das suas experiências. Tanto a prática dos profissionais da saúde, quanto a racionalidade científica precisam compreender e explicar a realidade, para conseguir desenvolver uma política de educação para saúde, principalmente em contextos mais vulneráveis. Não se trata apenas de como combater a doença, mas de promover uma prevenção. 

Enfim, hoje em dia as questões sobre saúde já não pertencem apenas ao domínio biomédico, apesar desse modelo ainda ser hegemônico e considerar certas práticas populares como irracionais, tem na interdisciplinariedade a possibilidade de se aproximar dos usuários, conhecer suas produções culturais e colaborar para que esses se tornem agentes transformadores da realidade. Isso  torna-se viável com o auxílio da epidemiologia , antropologia, psicologia e demais ciências que dentro dos seus recortes, contribuem para o estudo e tratamento das doenças.
Considero a leitura bastante significativa para que profissionais da saúde tenham um maior conhecimento sobre as muitas maneiras que a ideia de doença e saúde foi desenvolvida ao longo da historia, e como pode ser abordada em nossos dias. Para Psicologia da Saúde sua relevância também remete as formas de lidar com o adoecimento e a saúde em parceria com os demais saberes, promovendo saúde e não apenas combatendo a doença.