sábado, 6 de maio de 2017

O sistema de comércio Kula na Antropologia


O sistema Kula de comércio foi descrito e analisado primeiramente por Malinowiski (considerado um dos “Pais Fundadores” da Etnografia), no livro “Os argonoutas do pacífico ocidental (1922)”, elaborado a partir de seu trabalho de campo nas Ilhas Trobriand, na Melanésia.

De acordo com Lanna:
“Ainda a partir da etnografia de Malinowski, Mauss retoma as diversas formas de dádivas trobriandesas (inicial, de fechamento, convite, de retorno etc.) interpretando-as como “formas primitivas de classificação”. Corretamente, não dá atenção à (re)classificação malinowskiana desta classificação trobriandesa. Sugere futuras pesquisas sobre o lugar do indivíduo não generoso no kula, infiel aos seus parceiros, e conclui que “o kula não passa, ele próprio, de um momento, o mais solene, de um vasto sistema de prestações e contra prestações que parece englobar a totalidade da vida econômica e civil dos trobriandeses” pois “ele concretiza e reúne muitas outras instituições” (idem, p. 83). O kula é assim um fato fundamental da vida trobriandesa, englobando não só o que Mauss chama de “vida civil e econômica” (incluindo aqui a política e a diplomacia intertribal) como também os mitos, a religião, a magia, as práticas funerárias e a moral (Mauss, 1974, p. 86). (Lanaa, 2000, p. 183).

Para Marcel Mauss: “O kula é uma espécie de grande potlatch” (Mauss, 2003, p.214). A partir do trabalho de Malinowiski, ao qual elogia, Mauss elabora sua análise do grande “sistema de comercio intertribal e intratribal” denominado kula, que se estende por todas as ilhas Trobriand.

Apesar de tratar-se de um sistema comercial, para Mauss “o comércio kula é de ordem nobre.”(Mauss, 2003, p.215), o que quer dizer que os objetos de trocados no kula possuem um valor distinto dos demais, que excede o simples valor comercial de uma moeda de troca qualquer e, por isso mesmo, possuem uma esfera de circulação restrita. Segundo Lanna:
“O kula, por exemplo, pode ser entendido como um comércio intertribal, por implicar uma troca circular que ocorre entre várias ilhas melanésias. Mas, como Malinowski mostra, ele é distinguido pelos próprios trobriandeses das trocas puramente econômicas “de mercadorias úteis”, denominadas gimwali, e que ocorrem paralelamente a ele (idem, p. 74). Mauss nota que os trobriandeses sempre foram comerciantes. Em resumo, para Mauss, como para Malinowski, as trocas podem ter um caráter mais ou menos comercial.” (Lanna, 2000, p. 182).

Nas palavras do próprio Mauss:

“Para começar, a troca dos próprios vaygu’a  enquadra-se, por ocasião do kula, em toda uma série de outras trocas extremamente variadas, que vão do regateio ao salário, da solicitação à pura cortesia, da hospitalidade completa à reticência e ao pudor.” (Mauss, 2003, p. 223-224).

Mauss também aponta para a questão dos valores e das motivações envolvidas nas trocas, entre as tribos que participam do sistema kula:
“A importância e a natureza dessas dádivas provêm da extraordinária competição que se instala entre os parceiros possíveis da expedição que chega. Eles buscam o melhor parceiro possível da tribo oposta. A questão é grave: pois a associação que se tenta criar estabelece uma espécie de clã entre os parceiros. Para escolher, portanto, é preciso seduzir, deslumbrar. Levando em conta as hierarquias, é preciso atingir o objetivo antes que os outros, ou melhor que os outros, provocar assim trocas mais abundantes das coisas ricas, que são naturalmente propriedade das pessoas mais ricas. Concorrência, rivalidade, ostentação busca de grandeza e interesses, tais são os motivos diversos que subjazem a todos esses atos.” (Mauss, 2003, p. 225).    
E, tecendo um comentário sobre o objetivo de Mauss ao analisar esses “fenômenos sociais totais” (o potlatch e o kula, dentre outros) no Ensiao sobre a Dádiva, Lanna encerra:
“... para Mauss as trocas incluem bens mais ou menos alienáveis, assim como bens economicamente úteis ou não. Elas podem incluir “serviços militares, danças, festas, gentilezas, banquetes, mulheres”; em resumo, qualquer “circulação de riquezas” (incluindo-se aqui as mulheres) é apenas um momento “de um contrato mais geral e muito mais permanente” (MAUSS, 1974, p. 65). Ou seja, o objeto do Ensaio não é a economia primitiva, mas a circulação de valores como um momento do estabelecimento do contrato social.” ). (Lanaa, 2000, p. 179)

O Significado de Kula e Potlatch na Antropologia


O Kula e o Potlatch

O Kula e o Potlatch têm uma importância fundamental para o teórico Marcel Mauss, pois estes constituem fenômenos sociais que se apresentam e tomam diferentes formas de classificação e perspectiva, tais eventos podem ser estudados por um viés cultural, social (questões hierárquicas), religioso (místico) ou até mesmo econômico. Dessa maneira, os dois podem ser entendidos como vigorosos processos de interação entre os habitantes de determinado meio social, daí advêm sua relevância.

O aspecto cultural pode ser compreendido pelo fato desse costume ser repassado de geração para geração e em cada sociedade esses fenômenos sociais apresentam suas particularidades.
            
No plano religioso, percebemos que as trocas não são motivadas exclusivamente por valores materiais, mas também por valores espirituais. Acredita-se que os objetos têm um valor subjetivo e essa subjetividade se manifestaria entre aqueles que praticam esse costume. Além da troca material ocorreria a troca entre almas.
            
No que diz respeito ao ponto social, aqui percebemos uma semelhança muito grande com o aspecto cultural destas trocas, na verdade o significado social da Kula e do Potlach se deve em grande parte ao senso cultural e religioso desses costumes, pois estes são os responsáveis pela consolidação de tais fenômenos em determinadas sociedades, fazendo com que tais fenômenos constituam verdadeiras relações sociais das mais destacadas no meio social em que elas se inserem.
            
O lado econômico da questão surge a partir do principio, defendido por alguns teóricos, que prega que a economia tem raízes na dependência do homem relativamente ao seu semelhante e à natureza que o cerca, para garantir a sua sobrevivência.

Estranhos no Exterior: Fora da varanda Bronislaw Malinowski


Vídeo sobre os estudos do antropólogo Bronislaw Malinowski. 
"Off the verandah", em tradução livre, " Fora da Varanda" é parte da série televisiva "Strangers Abroad", em tradução livre "Estranhos no Exterior," exibida nos anos 90.

Sobre Malinowski: 



Vários video aula de Marcel Mauss legendado


Video realizado pelas Profas. Dras. Carmen Silvia Rial e Miriam Pillar Grossi, respectivas coordenadoras do Núcleo de Antropologia Audiovisual e Estudos da Imagem (NAVI) e do Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS), vinculados ao Laboratório de Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Este vídeo resgata a trajetória intelectual, docente e política do Antropólogo francês Marcel Mauss, um dos fundadores da Escola Francesa de Sociologia e Antropologia, reconhecido por suas importantes obras e por seu legado intelectual representado numa eminente linhagem de pesquisadoras e pesquisadores. A partir de uma perspectiva de gênero, a rememoração do trabalho deste grande clássico da Antropologia se deu por meio de entrevistas realizadas com três de suas principais ex-alunas: Denise Paulme, Germaine Dieterlain e Germaine Tillion.













Marcel Mauss e suas contribuições na Antropologia


É importante buscarmos entender Marcel Mauss em um primeiro momento por uma de suas maiores características, que é há uma grande influencia e também, de uma certa forma, uma aprimoramento da obra de seu tio, Émile Durkheim,  o qual desenvolve a perspectiva de fato social, como o motor produtor e principal fator coercitivo que move as ações dos indivíduos, ou seja eles importam apenas e para a sociedade, e esta é realmente onde tudo se move e onde as ação se fazem, sendo superior a qual quer preceito que considere a individualidade. 

Mauss já aperfeiçoa esta concepção criando um grau de complexidade onde as características que movem as ações são influenciadas por varias camadas de valores estes diferentes e mesmo assim importantes. Entendendo que este uma condição mais humana, já que o caráter social, mas também econômico, afetivo, simbólico e uma serie de outros valores, tão importantes quanto, que agem como condicionantes envolvidos no que define os rumos do homem de uma maneira geral, denomina assim: o fato social total. Aqui também é aberto dialogo que a antropologia faz com a interdisciplinaridade[1] por em seu universo absorver entendimentos da psicologia, biologia e sociologia. Em resumo sua percepção e multidimensional.

É importante destacar a sua tese sobre os processos de aliança. O autor tem uma corrente evolucionista implícita em alguns trechos de sua obra mais importante, O ensaio sobre a dadiva, a sua forma de perceber as sociedades que analise através de relato não deixam escapar algumas expressões próprias dos evolucionistas, como: origem, arcaica, atrasada.  Estes são diálogos que ele faz em suas analises, também com o funcionalismo, mas é importante frisar que seus conceitos vão além de um estrutural funcionalismo.

Sua obra pode ser referenciada e servir de embasamento para uma discussão com varias perspectivas, como a Marxista, feita em uma abordagem critica que Marcos Lana[2]  percebe vários elementos que compõem a sua influência conceitual.

A escola francesa com Mauss ganha um substancia antes imaginada, que ira influenciar grandes nomes da antropologia como Claude Lévi-Strauss.
Entretanto no ensaio sobre a dadiva o que o autor enfoca como ponto principal é exatamente a dadiva e seu caráter simbólico, no que se refere às alianças possíveis que se fazem neste caráter o que poderíamos chamar de solidariedade, já visto em Durkheim, mas que vai além disso, sendo em sua perspectiva o que alicerça toda as relações sócias em um nível mais profundo e simbólico.

O ensaio sobre a dadiva e os povos da Melanésia

A releitura do paradigma da dadiva é percebida por Mauss atingindo outras proporções em sua valoração das relações sociais.

[3]“O caráter voluntario, por assim dizer, aparentemente livre e gratuito, e, no entanto obrigatório e interessado, dessas prestações. Elas assumiram quase sempre a forma do regalo, do presente oferecido generosamente, mesmo quando, nesse gesto que acompanha a transação, há somente, mesmo quando, nesse gesto que acompanha a transação, há somente ficção, formalismo e mentira social, e quando há, no fundo, obrigação e interesse econômico. E não obstante indicarmos com precição os diversos princípios que deram esse aspecto a uma forma necessária da troca” MAUSS: 2003; p.188     

Sua interpretação, ou seja, seu entendimento pertence a um entendimento dialético social e econômico polarizado pelas relações de honra de uma dadiva e uma prestação de serviços. O que nos faz evitar perceber apenas uma troca e sim um aspecto mais completo e simbólico.
O método usado baseou-se em estudos de relatos de áreas determinadas com os seguintes povos: Polinésia, Melanésia, noroeste Americano.
Como relata seguir Mauss confia nos relatos declarando que o caráter Filológico é um dos critérios para a veracidade dos escritos. Entretanto, o seu trabalho tem seu caráter enfraquecido por saber que este se apoia em relatos externos a observação do próprio Mauss. Está pode ser uma de suas falhas na busca de uma realidade mais veríssima, sabe-se que Mauss não teve grandes experiências no campo. Todavia a lucidez de suas analises e o critério que opera com as fontes colhidas é exemplar.

“Nas economias e nos direitos que precedem os nossos, nunca se constatam, por assim dizer, simples trocas de bens, de riquezas e de produtos num mercado estabelecido entre os indivíduos. O primeiro lugar, não são indivíduos, são coletividades que se obrigam mutuamente, trocam e contratam; as pessoas presentes ao contato são pessoas morais: clãs, tribos, famílias que se enfrentam e se opõem seja em grupos frente a frente num terreno, seja por intermédio de seus chefes, seja dessas duas maneiras ao mesmo tempo. Ademais, o que eles trocam não são exclusivamente bens e riquezas, bens móveis e imóveis, coisas úteis economicamente. São, antes tudo, amabilidades, banquetes, ritos, serviços militares, mulheres, crianças, danças, festas, feiras, dos quais o mercado é apenas um dos momentos, e nos quais a circulação, de riquezas não é senão um dos termos de um contrato bem mais geral e bem mais permanente.” MAUSS: 2003; p.191


Documentários, filmes e palestras:    

"Marcel Mauss e as Ciências Sociais" Palestra, Vídeo realizada no 30º Encontro Anual da Anpocs - 2006 disponibilizado pela ANPOCS - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais.

Estudos e resenhas:

Bibliografia:

MAUSS, Marcel; Sociologia e antropologia, ed. Cosac Naify, São Paulo, 2003  

LANA, Marcos (2000); “Nota sobre Marcel Mauss e o ensaio sobre a dadiva”, Revista de Sociologia e Política nº 14: 173-194, junho. Página consultada a 27 de novembro 2011, <http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n14/a10n14.pdf>

  • [1] Como podemos perceber no artigo de SANETO, Juliana Guimarães; Educação Física e Marcel Mauss: contribuições antropológicas; publicado na EFDeportes.com, revista digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011;
  • [2] LANA, Marcos; Nota sobre Marcel Mauss e o ensaio sobre a dadiva, http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n14/a10n14.pdf
  • [3] MAUSS, Marcel; Sociologia e antropologia, ed. Cosac Naify, São Paulo, 2003  


Lévi-Strauss - A noção de Estrutura em Etnologia


A noção de Estrutura em Etnologia in Antropologia Estrutural. Cap. XV

01. Os modelos devem, para poderem ser chamados de estruturais, satisfazer somente a quatro condições: a) “Estrutura representa um caráter de sistema” (LÉVI-STRAUSS, 2008, p. 301); b) os modelos pertençam a grupos de transformações – correspondentes a uma modelo da mesma família – e o conjunto dessas transformações forma um grupo de modelos; c) Com o que foi dito acima, há possibilidade de prever como o modelo reagirá em caso de mudar um de seus elementos; d) Modelo deve dar conta de todos os fatos observados

02. Experimentação dos modelos está relacionada à possibilidade de saber a reação de um modelo frente modificações, bem como a comparação entre modelos de um mesmo tipo ou de tipos diferentes. No nível de observação, a regra principal é que os fatos sejam “observados e descritos, sem permitir que pressupostos teóricos lhes alterem a natureza ou a importância” (p.303): fatos estudados em si mesmo e em conjunto

03. Devemos entender como modelo uma manifestação da e ligada a estrutura, que se realiza nela, mas nela não se esgota. Portanto, o etnólogo poderá se deparar com os “modelos caseiros”, que podem ser, inclusive, melhores do que os dos etnólogos. Devemos tratá-los: 1) Como via de acesso a estrutura; 2) Os tipos de erros fazem parte dos fenômenos a serem estudados. Normas culturais não são a estrutura, mas “peças importantes para ajudar a descobrir as estruturas; documentos brutos,ou contribuições teóricas, comparáveis às que são feitas pelo próprio etnólogo” (p.305). Os modelos são construídos a partir das relações sociais observáveis.

04. Trata-se de uma diferença de escala: os modelos mecânicos estão na escala dos fenômenos observados, dos fatos. Já os modelos estatísticos estão em outra escala. Vale dizer que os mesmos dados podem receber um tratamento estatístico ou mecânico. Por exemplo, o suicídio: O estudo de casos individuais (personalidade da vítima, história individual e etc...) gera uma abordagem mecânica. Já nos casos estatísticos, poderíamos nos basear na freqüência de suicídios em determinado período. Vale lembrar que a comparação não se restringe ao nível mecânico.

05. Como os estudos estruturais propõe-se a isolar níveis significativos, “cada tipo de estudo estrutural aspira à autonomia, à independência em relação a todos os demais” (p.308). Desse modo, o objetivo é construir modelos cujas propriedades sejam passíveis de serem comparadas com outros modelos. Assim, utiliza o exemplo da diferença de tempo entre história (tempo estatístico: não reversível e de orientação determinada) com o tempo da etnologia (mecânico: reveresível e não cumulativo).

06. Na análise estrutural o método é sempre comparativo: para que se possa tentar uma aproximação da noção de estrutura, inclusive a estrutura comum ao pensamento humano. A opção em um estado comparativo se dá em termos de recorte: o caso é apenas um, que deve ser estudado a fundo. Assim, seus “elementos constitutivos estarão (dependendo do padrão adotado) na escala do modelo projetado [mecânico] ou numa escala diferente [estatístico]”.

07. Tempo e espaço social devem ser abordados como sistemas de referência para as relações sociais. Ora, se se tem por objetivo a compreenção das relações sociais com o auxílio de modelos, o espaço e o tempo são tidos como sistemas de referência para se conceber as relações sociais – é impossível concebê-las fora de um meio comum.

08. O método histórico é compatível com uma atitude estrutural à medida que não se pode encarar as relações sociais isoladas de um tempo e espaço determinado: tanto o elemento geográfico como o temporal são indispensáveis como forma de referência às relações sociais. 

09. Uma nova demografia surge, preocupada “com descontinuidades significativa dos grupos considerados como totalidades e delimitados em razão de tais descontinuidades” (p.317). Esse método serve de modelo para que etnólogos possam “encontrar numa sociedade moderna e complexa unidades menores” (p.319). Torna-se impossível delimitar onde começa e acaba uma cultura: o indivíduo detém, então, vários sistemas de culturas (nacional, local, familiar, profissional). Quanto às limitações, o método demográfico urge por uma complementação etnológica, a necessidade de se determinar o comprimento dos ciclos matrimoniais.

10. Operação da comunicação de uma sociedade se dá em, no mínimo, três níveis: comunicação de mulheres, bens e serviços e mensagens. Ou seja, a “o estudo do sistema de parentesco, o do sistema econômico e o do sistema lingüístico apresentam certas analogias” (p.321). Trocas de mensagens diferem-se uma das outras por ordem de grandeza.

11. Lévi-Strauss critica Radcliffe-Brown por considerar que este confunde observação e experimentação. Radcliffe-Brown reduz o nível dos estudos de parentesco ao da morfologia e fisiologia descritiva, ao invés de fazer como Lévi-Strauss, que o eleva ao nível de estudos da teoria da comunicação.

12. Contribuição de Murdock: renovar o método estatístico e “reconstituir a evolução histórica dos sistemas de parentesco” (p.332). Falha: Não distingue suficientemente entre modelos estatísticos e mecânicos e sua reconstituição histórica é ideológica: pois abstrai os elementos comuns de cada estágio para definir o anterior, e assim por diante. Já Lowie, se preocupa em descobrir o que são os fatos, abrindo caminho para os estudos estruturais conforme se atentava ao sistema terminológico e sua relação com as atitudes. Há outras descobertas importantes de Lowie, como o caráter bilinear de sistemas antes considerados unilineares, a influência do modo de residência sobre o de filiação e a dissociação dos comportamentos familiares de respeito à proibição do incesto. É criticado por sua noção de cultura feita de “peças e pedaços”.

13. O argumento final é que a antropologia é uma ciência nova, posta em um terreno “híbrido e ambíguo; nossos fatos são complicados demais para serem tratados de um modo, porém não o bastante para que o sejam do outro modo”. Faz uma analogia com os botânicos: antes os antropólogos recolhiam fatos isolados, conservando-os. Agora os colocam em uma ordem, examinando-os. Ou seja, há a ordem das ordens: “expressão mais abstrata das inter-relações entre os níveis em que a análise estrutural pode ser realizada” (p.356). Vale lembrar que não existe, à priori, uma harmonia entre os níveis de estrutura, eles podem estar em contradição uns com os outros.

Resumo de Marcel Mauss - As técnicas do Corpo


Marcel Mauss - As técnicas do Corpo 

I – Noção de técnica do corpo

- Modo de andar dos EUA são disseminado pelo cinema na França: há uma educação do andar, da posição das mãos.
- "Habitus": Variam em indivíduos, sociedade, educações, conveniência, modar prestígios
- Tríplice ponto de vista do homem total: Fisiológica, Psicológica e Sociológica
- Imitação como um ato que se impõem de fora
- Ao observar os Maori com o jeito não natural com que anda, conclui que inexiste um andar natural entre adultos
- Ato técnico, físico e mágico-religioso confundem-se para o agente.
- Modos de agir: técnicas do corpo: ato tradicional, eficaz: ato de ordem mecânica – homem difere-se do animal pela transmissão de técnicas.
- Corpo: primeiro e mais natural instrumento do homem.
- Adaptação constante a um objeto físico, mecânico ou químico (quando bebemos, por exemplo): Série de atos montados, pelo indivíduo, e nele mesmo, por sua sociedade: "Tudo em nós é imposto".

II – Princípio de Classificação das Técnicas do Corpo

- As técnicas dividem-se e variam por sexos e idades:
1) Técnicas dos homens diferem-se das técnicas das mulheres (2 sociedades): Fisiologia, Psicologia e Sociologia em um trabalho mútuo
2) Variação das técnicas do corpo conforme as idades: divisão presente em todas as sociedades (por exemplo: a posição agachada está presente nos atos dos adultos de todas as sociedades com exceção da nossa)
3) Classificação da técnica do corpo com relação ao rendimento: Adestramento (busca de aquisição de rendimento à técnicas normais humanas do adestramento humano); senso de adaptação de seus movimentos bem coordenados à objetivos ("habitus").
4) Transmissão da forma das técnicas: Educação física, em todas as idades e sexos, são modos de adestramento e imitação – ensino das técnicas.

III – Enumeração biográfica das técnicas do corpo:

1) Técnicas do nascimento e da obstetrícia: Coisas que consideramos normais, como o parto deitado, não são à outros. As técnicas do parto promovem o reconhecimento da criança
2) Técnicas da infância: Criação e alimentação da criança (ex: transporte da criança, desmame e após o desmame)
3) Técnicas da Adolescência: Momento decisivo; - apreendem as técnicas que conservarão durante toda a vida adulta
4) Técnicas da idade adulta:
a) Técnicas do Sono: Deitar na cama não é algo natural. Há uma distinção entre sociedades que dormem sobre algo e as que dormem no chão.
b) Técnicas de Repouso: Distinção entre sentado e cócoras.
c) Técnicas da atividade e do movimento: Ausência de repouso – coisas que para nós parecem naturais são históricas
d) Técnicas de cuidados com o corpo; e) técnicas do consumo; f) técnicas de reprodução (posições sexuais); g) técnicas de medicação do anormal (ex: massagens).

IV – Considerações Gerais

- Em toda parte há montagens físico-psico-sociológicas de série de atos habituais e antigos na sociedade, montados pela autoridade social e para ela.
- Em toda sociedade todos sabem e devem saber aprender o que fazer em todas as condições
- Causa sociológica nos fatos: princípio de exemplo e ordem
- Fatos psicológicos: engrenagens não causais, exceto no momento da criação – possibilidades psíquicas das mais diversas raças e povos frente a fenômenos biológicos e sociológicos.
- Educação: adaptação do corpo ao uso das técnicas – seleção em vista de um rendimento determinado
- Graças à sociedade que há uma intervenção na consciência, que dá firmeza aos movimentos e domínio do consciente.