sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Discurso sobre a África: uma analise Antropológica

Discurso sobre a África
Os meios de comunicação são uns dos grandes responsáveis por nossas percepções sobre a África. No Brasil, tem limitadíssimo número de referências ao continente. Em geral, é somente quando grandes crises humanitárias – como secas devastadoras e fome generalizada – assolam a África que os jornais noticiam alguma coisa. A média desempenha um papel exemplar em construir uma determinada imagem da África.

A média internacional insiste em reforçar essa visão de uma África pobre, destruída pela guerra, fome e seca. Por que continua a predominar no mundo a imagem de uma África sem saída, cujos governos totalitários e democracias corruptas esvaziam os cofres públicos, deixando sua população totalmente à deriva dos grandes problemas sociais, como a miséria absoluta, o desemprego e a criminalidade.

Cabe relembrar que sempre predominou na África a tradição oral. Isso significa que as histórias no continente foram passadas de geração em geração, camuflando-se entre mitos, lendas e outras fantasias do imaginário popular. Eram poucos os registros históricos escritos. Até que os europeus chegaram e registraram o que viram, obviamente, sobre suas percepções. 

Durante a colonização, os europeus trataram de criar uma nova ciência para estudar melhor seus colonizados: a antropologia. No entanto, seus objectivos eram evidentes: legitimar as causas do invasor. Fortalece-se então a ideologia da dominação: o racismo. Ainda hoje herdamos essa visão racista da história africana. Dessa forma, na minha óptica as percepções que os ocidentais têm actualmente da África são resultado da visão eurocêntrica racista dominadora que prevaleceu. Mas os países africanos, após a Segunda Guerra Mundial, conquistaram um a um sua independência.

Joseph Ki-Zerbo, história e política 

Muitas das lideranças da independência se comprometeram a ir muito além do status quo político. Entre essas, destaca-se Joseph Ki-Zerbo. O intelectual da Burkina Faso revolucionou o pensamento africanista. Empenhou-se, como intelectual e homem político, a lutar pela busca de uma identidade do continente, mostrando que esta é resultado de uma evolução, de um progresso, e de lutas políticas e intelectuais. E tendo percebido que a África não poderia avançar no futuro se não conhecesse seu passado, desenvolveu-se como historiador, inspirando gerações dedicadas a resgatar a riquíssima história do continente e de seus povos.

Ki-Zerbo ainda complementa destacando a importância da união das nações africanas para essas conquistas, creditando no panafricanismo um meio de dar esse “arranque” para o seu próprio progresso.

KI-ZERBO Joseph. Para quando a África? Entrevista com René Holenstein. 2006.

Resultado de uma série de entrevistas que René Holenstein – Doutor em História e especialista em questões de desenvolvimento – realizou com Joseph Ki-Zerbo entre os anos de 2000 e 2002 (especialmente nas cidades de Uagadugu/Burkina Faso/, Genebra/Suíça e Pádua/Itália),o livro Para quando a África? Deve ser entendido como o saldo de uma visão apurada sobre a história do continente, através dos olhos de um dos maiores historiadores africanos (1922-2006). 

Argumentando sobre vários temas relacionados à história africana, num primeiro momento, Ki-Zerbo reflecte sobre a questão do Estado no continente africano, complementando as análises com sua própria experiência pessoal. Sendo a grande maioria dos Estados africanos de formação recente, Ki-Zerbo afirma que seus dirigentes fazem dos Estados africanos Estados patrimoniais (ou ainda étnicos), que não são um estado verdadeiro, para o autor. A questão-chave é, então, a integração do continente, na tentativa de reverter o quadro de fragmentação resultante dos processos de independências. E a integração se dá pela identidade, cujas línguas e respectivas culturas são factores de agregação. Nesta perspectiva, o autor reitera que a troca cultural é mais desigual que a troca de bens materiais, assim, “... um dos grandes problemas da África é a luta pela troca cultural equitativa. 

Uma cultura sem base material e logística é apenas um vento que passa” (pág. 12). O autor afirma que, sendo a África o berço da humanidade, sua história tem sido recontada a partir da sua própria matriz, principalmente desde os tempos em que Ki-Zerbo estudava em Paris, na Sorbonne2, onde juntamente com outros autores-poetas (sua própria definição), como Aimé-Césarie, Leopold-Sédar Senghor e René Depestre, passou a apresentar um olhar alternativo sobre a África, “... um olhar sem complexos, que respondia ao desprezo com um desafio” (pág. 15).

A afirmação do autor sobre a necessidade de um contra sistema (ou sistema alternativo) à globalização actual abrange o princípio do dever-se pensar globalmente e agir localmente, não esquecendo que o pensamento não deve nunca ser separado da acção, e assim reciprocamente. O isolamento, neste sentido, não é possível diante de uma economia de informação, onde não há fronteiras. Logo, o papel da África neste mundo globalizado, deve ser o de um projecto colectivo, baseado nos bens económicos, nas ligações sociais e valores culturais. Ou seja, a África deve ir ao fundo da sua cultura, da sua civilização, para “... encontrar um espírito que concilie simultaneamente a liberdade e a igualdade” (pág. 157). Um exemplo desse projeto proposto por Ki-Zerbo se refere às, já em andamento, economias solidárias africanas, baseadas na partilha, via humanismo: numa responsabilização, por parte das famílias, da produção comunitária, local por excelência, pois, para Ki-Zerbo, “o centro está em nós mesmos” (pág. 158).

Ainda transitando por temas como a guerra e a paz, direitos humanos, democracia e governo, e, principalmente, renascimento africano, Ki-Zerbo afirma que o pacto colonial dos séculos XVI/XIX ainda hoje perdura, onde a África, no papel de produtora de matérias-primas é a mesma: entre 60 a 80% do valor das exportações africanas são matérias-primas puras: “O Estado nacional é ultrapassado [em tempos de globalização] e, mais do que nunca, estamos perante uma economia de oferta: produz-se em quantidade, procurando-se fabricar consumidores para adaptá-la à produção. Creio que este é o centro do sistema capitalista actual. E a África, mais uma vez, neste domínio, está muita mal dotada” (pág. 38).

E, a modo conclusivo, o autor torna-se taxativo sobre as características do mais recente estágio da globalização (e último da domesticação), no qual a África faz parte da grande fatia dos perdedores: os aspectos da exploração/ degradação ambiental, o plano económico desigual entre as nações, e a falta da industrialização africana actual. 

Ki-Zerbo, no entanto, arrematou optimista sobre a verdade da relação de que os mais pobres não são os menos ricos em matéria de consciência, afirmando que: “Há pessoas extremamente ricas, ditas desenvolvidas, e sociedades extremamente ricas onde o nível de consciência não é tão elevado como nas sociedades mais pobres. Por toda a parte há humanos por inteiro e anti-humanos, mas não há por toda parte condições mínimas para a dignidade. Normalmente, seria necessário associar tudo ao máximo: a ciência, a consciência e a vida. É verdadeiramente a vocação do ser humano. [...] A consciência é a responsabilidade. É o guia que governa o foco incandescente do espírito humano, É o 'coração' que um dia será pesado no tribunal de Osíris3”. (pág. 161).

Para ele, no final das contas, a consciência prevalece, mostrando uma inatingível confiança no curso da história, onde a África “... que o mundo necessita é um continente capaz de ficar de pé, de andar em seus próprios pés”. Uma África consciente do seu passado e capaz de mudar seu futuro, pelo conhecimento do presente.

Representações das Identidades das Mulheres Negras

A representação da identidade da mulher negra é particularmente tratada nos princípios de sua participação sociocultural nos contextos, e veiculada como forma de caracterização e representação do feminino na sociedade.

Em nossa sociedade pós-moderna, concebe-se a identidade como algo que se constrói durante toda uma vida. A construção identitária feminina se deu, em boa parte, através das principais instituições sociais, como a Igreja, a Família e o próprio Estado, que enraiaram o patriarcalismo em suas estruturas. 

Dai que surge o movimento feminista, que vai lutar pelo espaço das mulheres que sempre lhes foi negado. Porem, a mulher negra aparece novamente excluída de mas esse processo, seja pelo factor da escravidão, que retira o direito e a oportunidade da mulher negra de inserir-se em determinados contextos sociais ou ate mesmo pelo isolamento de algumas comunidades negras com relação a esse mundo pós-moderno.

Referencias

Pinto, S. (2007) “A Construção da África: uma reflexão sobre origem e identidade no continente” in Revista ACOALFA: Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa, Ano 2, No. 3.

Pinto, S. (2007) “A Construção da África: uma reflexão sobre origem e identidade no continente” in Revista ACOALFA: Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa, Ano 2, No. 3.

KI-ZERBO Joseph. Para quando a África? Entrevista com René Holenstein. Rio de Janeiro,
PALLAS, 2006, 172 páginas.

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