domingo, 17 de setembro de 2017

Antropologia das Sociedades Rurais


Trabalho elaborado pelo estudantes do curso de licenciatura em Antropologia da Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique) na disciplina de Antropologia das Sociedades Rurais.

1.1 Introdução 

O presente trabalho é da cadeira “Antropologia das Sociedades Rurais”. Nele pretendamos abordar a problemática das Sociedades Rurais tendo como alicerce a história da antropologia, para fazer face as discussões sobre o percurso histórico, teórico e metodológico da mesma disciplina.

A discussão clássica sobre as Sociedades rurais na antropologia está vinculada a história da antropologia, abordada com recursos a vários eptetos1. Nesse sentido, a ênfase do termo sociedade rurais na antropologia começa a ser objecto de discussão nos finais do século XIX e princípios do século XX, e surge duas abordagens sobre as sociedades rurais, uma abordagem que olhava as sociedades como fechadas, coesa, harmoniosa, homogénea etc., e sem contacto com exterior. Entretanto, essa abordagem foi criticada por muitos autores que olham essas sociedades em sentido oposto a primeira perspectiva, nesse sentido a segunda abordagens tende a privilegiar um olhar sobre as sociedades rurais como heterogéneo vinculado com o mundo global em que ela em se só não são auto-suficiente.

Relativamente à metodologia baseamo-nos a revisão de literatura de textos disponibilizado para o presente trabalho. O presente trabalho é apresentado em seis capítulos, o primeiro é a introdução onde apresenta-se a estrutura do trabalho e aborda-se um pouco do conteúdo, o segundo trata-se do percurso histórico onde traça-se a história da antropologia e os primeiros estudos sobre colectividades rurais, o terceiro trata de quadro teórico e metodológico onde discute-se acerca das teorias e metodologias usadas para análise das colectividades rurais.

O quarto trata-se da problemática onde mostra-se em discussão duas abordagens sobre as colectividades rurais, o quinto trata-se da discussão em torno das sociedades ou comunidade rurais onde aborda-se alguns problemas suscitados com o termos comunidade, sociedades rurais; o sexto trata-se da problemática da dicotomia entre “Micro/Macro” e “Rural/Urbano” onde mostramos a gane-se da dessa dicotomia e desmitificamos a tal dicotomia e o ultimo trata-se da conclusão onde mostramos as conclusões que o grupo chegou.

1. Termos designados as sociedade Rurais

1.2 Percurso Histórico

A antropologia surge como ciência nos meados do século XIX, ela surge a estudar as ditas “sociedades primitivas”, ao longo do tempo ele foi perdendo seu objecto de estudo, pelo facto dessas ditas sociedades primitivas na se fazer sentir a sua existência, dai que a antropologia entra numa crise profunda em relação ao seu objecto de estudo2. Neste sentido, o primitivo já não existe tornou-se civilizado ou está em mobilidade que lhe permite dialogar com o civilizado, e o mesmo primitivo já é civilizado vive e partilha mesmas opiniões com o civilizado.

Na ordem da ideia acima o Primitivo foi visto como o Rural enquanto o Civilizado está ou é visto como Urbano. As discussões clássicas sobre as sociedades rurais na antropologia, mas do que estar ligado a sua história trouxe consigo vários eptetos etnocêntricos, dum lado eram vistas como sociedades: “fechadas, homogénea, auto-suficiente, simples, primitivas, iletradas, analfabetas e idílica, pequenas, tradicional, harmoniosa e isolada” onde todos concordam com todos, há uma verdadeira coesão social, dentro desta abordagem situamos Robert Redfield e antropólogos evolucionistas, doutro lado eram vista como sociedades heterogenia mesmo dentro de um território bem limitado não havia uma homogeneidade, defendendo a existência de hierarquia e uma divisão social de trabalho, onde notava-se relações de poder dissimétricas e conflituosas Mingione e Pugliese (1987).

Contudo os estudos realizados nos finais do século XIX e nos princípios do século XX, conceberam umas visões dualistas das sociedades e definem o espaço urbano como espaço que representa a modernização em relação ao espaço rural que refere-se ao primitivo, tradicional, periférico.

A crise que antropologia teve estivera associados outros factores tais como: a descolonização, a independência etc.

1.3 Quadro teórico e metodológico

Neste capítulo, pretendemos discutir e mostrar alguns debates sobre a problemática do quadro teórico metodológico das sociedades rurais com realce a sociologia rural e a antropologia rural, para tornar possível esse debate começaremos a mostrar as diferenças entre a sociologia e antropologia. Nesta linha de pensamento, somos da opinião que a antropologia e sociologia são duas ciências que tem pontos em comum, mas compreender a diferença delas só é possível recorrendo o surgimento das duas ciências, ou seja o que difere a antropologia e a sociologia é a história das duas ciências.

A antropologia e sociologia considerada como ciências irmãs, compartiam mesmo métodos e teóricos apesar de algumas vezes se diferirem em algumas abordagens. Conforme Pinto (1977) a discussão sobre a problemática metodológica é fundamental porque nos permite perceber as interligações entre a sociologia, etnologia ou antropologia e a historia, nesse sentido segundo o autor Henri Mendras na sua obra que pretende ser introdução a sociologia nos afirma “que não existe diferença fundamental entre problemática e metodologia entre sociologia e a etnologia”, na mesma linha Rymond Firth também citado por autor argumenta que “o etnólogo é um sociólogo especializado na observação no terreno, direita e em pequena escala, e conservando quanto a sociedade e a cultura um quadro conceptual em que se privilegie a ideia de totalidade”.

Na linha da discussão acima, de acordo com Pinto (1977: 823) “a pesquisa sociológica privilegia flagrantemente a utilização de técnicas de observação de índole extensiva (analise documental de fontes estatísticas disponíveis, inquéritos por questionário, escalas de atitudes e opiniões, etc.) o que Greenwood designa por método de medida ou, justamente por análise extensiva, enquanto pelo contrário na etnologia se recorre predominantemente a caminhos de investigação orientados no sentido da restituição aprofundada de uma multiplicidade de dimensões, o método intensivo ou estudo de casos, de que a monografia é mais corrente. Na impede que a sociologia aplique os métodos da etnologia.

Em relação as teorias encontrámos a profunda ligação e influências teóricas na análise das colectividades rurais ou “sociedades agrárias” conforme Joan Vicent. A antropologia e sociologia compartilham mesmas teorias ao analisar as colectividades rurais, nesta óptica os textos de Pinto e Almeida (1977) mostram como as teorias etnológicas e sociológicas se cruzam na análise das sociedades rurais desde o funcionalismo, estruturalismo ate marxismo histórico e ecológicas.

1.4 Problemática 

Depois da discussão sobre comunidades rurais no capítulo precedente, pretendemos neste capitulo trazer em discussão as abordagens que explicam a problemática sobre as comunidades rurais.

Nas ciências sociais existiram, por muito tempo, dois estereótipos contraditórios da sociedade rural, num, a vida era retratada como estável, conservadora e imutável; no outro, reconhecia-se que as áreas rurais caracterizava-se por abrigar um exercito industrial de reserva, a “a parcela excedente dos filhos do campo” que foge para as cidades (nesse sentido, depreciando o nível dos salários), suprido forca de trabalho para as minas, plantações e industrias, e ainda avolumando as fileiras das forcas armadas, Vicent (1987: 375).

De acordo com a citação acima, chegamos a conclusão que existem duas abordagens que discutem as sociedades rurais, a primeira diz que essas sociedades são: fechadas, simples, homogénea, isoladas, auto-suficiente, solidárias e vivem numa profunda coesão social, Robert Redfield citado por O’Neill (1988). A segunda perspectiva diz que essas sociedades ou comunidades são cada vez mais abertas e interdependentes e a sua natureza deriva em grande medida da diferenciação social que advém dessa abertura, O’Neill (1988); Pinto e Almeida (1977). Também explicam que as comunidades rurais sofrem influências externas, mas simultaneamente detêm a capacidade de dinamizar factores de modernidade, a partir do desenvolvimento de recursos locais.

A primeira abordagem apresenta limitações, deixa de fora a mobilidade que as pessoas dessas comunidades ou sociedades fazem para o exterior, recusa a entrada de novos elementos dentro dessas comunidades, elas não explicam as influências que essas sofre do exterior, e mesmo olhando por dentro dessas comunidades, ela não conseguem explicar a hierarquia, a exploração e subordinação que existem dentro delas. Ao nosso ver a segunda abordagem nos ajuda a compreender e explicar as dinâmicas das sociedades ou comunidades rurais, as lógicas que operam entre essas sociedades com o exterior, e nos explica que dentro delas não existem uma solidariedade e harmonia com a primeira tendem a defender. 

Contudo esta segunda linha de discussão, tende a integrar lógicas complexas para analisar as comunidades rurais cuja sua leitura deverá congregar os diferentes processos históricos e olhar as dinâmicas sociais dentro das comunidades. Nesta linha de discussão o “rural” e o “urbano” não são mais vistas como realidades isoladas, mas como realidades que confrontam-se relacionalmente. Por isso, se substitui as noções de comunidades rurais e urbanas por “ruralidade” e “urbanidade”, porque a ideia ruralidade se refere ao processo social, diz mais sobre o “mundo rural” no processo de transformação e faz referência não exactamente a um espaço ou a um modo de vida, porém as manifestações do rural. A novidade está em incluir o urbano no rural e vice-versa, tendo em mente de que um é pensado e construído a partir do outro. 

1.5 A Discussão Em Torno Das Sociedades/Comunidades Rurais

As sociedades rurais são vista como entidade parece dada, ou seja, quando falamos sobre rural achamos que estamos falando sobre algo bem definido. Neste sentido, a discussão de um conceito como comunidade rural suscita problemas complexos. Conforme Brandão & Feijó (1984) o conceito de comunidade é um instrumento eficaz para a análise social, todavia este conceito é evidentemente polissémico, porque, refere-se a algo existente no mundo real, refere-se outras vezes a um artifício para dar forma á investigação e por último ainda ao produto final.

A discussão clássica sobre comunidades rurais parte de uma enumeração de vários aspectos da realidade que seriam indicadores da situação do local estudado. Neste quadro de discussão destaca-se Robert Redfield citado por (O’Neill, 1988: 1339) que em 1953 explicitou claramente indicadores para definir aquilo que ele designava como “litte comunitiy”. De acordo com Redfield as comunidades rurais caracterizam-se por quatro características-chave:

Pela distinção territorial, isto é, a organização da vida comunitária estruturava-se em torno de um perímetro territorial bem definido, no qual se desenvolvia a estabilidade e a harmonia de vida rural; homogeneidade, ou seja, as actividades e os estados de espíritos são similares para todas as pessoas que constituem a comunidade (independentemente da geração e do género); o tamanho dessas comunidades é vista como pequenas quando comparadas com a dimensão populacional das maiores cidades e por último tendem a ser auto-suficiente Redfield citado por O’Neill (1988). 

Conforme Almeida (1977) as primeiras discussões sobre “urbano” e “rural” eram dualistas colocavam estes espaços como áreas contrapostas e com características próprias e isoladas. Nesse processo, as diferenças empíricas em aspectos ocupacionais e ambientais, de tamanho das comunidades, de densidade populacional, de mobilidade, entre outros foram elevadas pelos autores para diferenciar as “comunidades rurais” das “urbanas”. 

A sociedade “folk” segundo a definição de Robert Redfield citado por O’Neill (1988) organizava-se em torno de espaços fechados, relativamente imunes à modernização. Todavia a preocupação em conceituar as comunidades rurais e o urbano surge em um momento específico, assim quando operam essa diferenciação entre os espaços perdeu-se de vista as interdependências e as relações existentes entre os dois espaços. 

Assim sendo as diferenciações entre as comunidades rurais e urbanas, são percebidas como produtos históricos e culturais que foram criados para orientar a complexidade da existência da realidade a qual precisamos conhecer. Sobre esta questão, recorremos a Pierre Bourdieu que numa posição igual a de Barth (1969) afirma:

A fronteira nunca é mais do que o produto de uma divisão a que se atribuirá maior ou menor fundamento na “realidade”, segundo os elementos que ela reúne tenham entre si semelhanças mais ou menos numerosas e mais ou menos fortes. (...) Cada um está de acordo em notar que as “regiões” delimitadas em função de diferentes critérios concebíveis (língua, habitat, tamanho da terra, etc.) nunca coincidem perfeitamente. Mas não é tudo: a “realidade”, neste caso, é social de parte a parte e as classificações mais “naturais” apoiam-se em características que nada têm de natural e que são, em grande parte, produto de uma imposição arbitrária, quer dizer, de um estado anterior da relação de forças no campo das lutas pela delimitação legítima (Bourdieu 1997: 114-115).

Segundo Bourdieu (1997: 7), o espaço é um conjunto de posições distintas e exteriores, uma das outras, definidas umas em relação às outras por sua exterioridade mútua e por relações de inter-relacionamento, vizinhança e distanciamento. Esta perspectiva de espaço, trazida pelo Bourdieu influenciou nas discussões sobres estudos de comunidades rurais mostrando que não se pode separar os espaços em oposição urbano/rural, mas olhar estes espaços como interdependentes.

1.6 A Problemática da Dicotomia entre “Micro/Macro” e “Rural/Urbano”

Nesta secção, pretendemos trazer as discussões de diferentes autores sobre a dicotomia “Micro/Macro” e “Rural/Urbano” que predominaram nas ciências sociais em particular na sociologia e antropologia durante muito tempo.

Mingione e Pugliese num artigo no seu artigo intitulado: A DIFICIL DELIMITACAO DO “URBANO” E DO “RURAL”: ALGUNS EXEMPLOS E IMPLICACOES TEORICA publicado em 1987, afirmam que o principal problema da dicotomia Urbano e Rural esta no debate crítico, este por sua vez preocupou-se demais com a perspectiva da escola de Chicago de ecologia social e da sociologia rural americana que teve como alicerce a teoria estrutural-funcional que ignoraram os paradigmas da sociologia clássica de Marx e Weber. Nesta linha de ideia O’Neill (1988) no seu artigo intitulado: Entre a sociologia rural e a antropologia: repesando a “comunidade” camponesa, privilegia mais o termo Micro/Macro para referir o o Rural/Urbano, nesse sentido, o autor recorre a análise do trabalho de Pinto (1985) sobre Estruturas Sociais e Praticas simbólicas-Ideológicas nos Campos: Elementos de Teoria e de Pesquisa Empírica para desmitificar a falsa dicotomia do Rural/Urbano.

Para O’Neill (1988) a dicotomia Micro/Macro não faz sentido, porque estas comunidades estão em interacção umas com outras, os autores mostra através de dados etnográficos da obra de Pinto por ele citado diversos movimentos dos camponeses com o mundo urbano. Segundo o autor, (1988:1337-1338) a oposição macro/micro inaplicável e perigosa: o processo de atracão industrial (do lado macro da urbe) relaciona-se com um processo de crónica repulsão demográfica (do lado micro da freguesia), mas não são dois mundos separados que estão em contacto: já eram antes partes integrantes do mesmo e único sistema global de dominação assimétrica.

A critica feita a escola ecológica de Chicago permitiu ao Mingione e Pugliese (1987) identificarem os aspectos mais importante do debate, em que vem-se a critica de Gans contra Wirth (1938) que apresenta uma possível dicotomia entre urbano e o rural baseado nos tipos de ideias que lhe serviram como modelo para explicar a vida na cidade, tendo o espaço como factor essencial da dicotomia esta abordagem defendia a cidade é um espaço em que não havia mobilidade de indivíduos, Gans (1968) citado pelos autores reage a posição de Wirth e diz que as proposta dele baseado na ecologia social e sociologia social da escola de Chicago nos leva a um erro profundo pela forma como define a cidade.

Para Gans (1968: 84) a cidade não é um agregado relativamente grande, denso e permanente do indivíduo socialmente heterogéneo como Wirth define, mas é um espaço em que a transitoriedade e heterogeneidade só são possíveis através da interacção das pessoas em termos de papéis segmentados necessários e obtenção de serviços locais. Essas componentes da definição da cidade são também características do mundo rural.

Os pressupostos de Gans foram comprovados mas tarde após de muitas investigações empírica em que foram identificado um conjunto de pessoas com duplas vidas, citadina e campesina, na cidade para a última e rural para a primeira onde a cidade tinha aldeias urbanas com forte mobilidade e diversidade nas zonas rurais3. Dai que Gans advoga as propostas da sociologia clássica das classes, ciclos de vida e grupos étnicos que poderiam permitir a compreensão das variadas formas de vida nos dois espaços.

Após da proposta de Gans e críticas feitas a Wirth surge a nova sociologia urbana, que juntamente com a sociologia rural vão rejeitar a dicotomia, pelo facto de não permitir a compreensão da diferenciação de estilos de vida e comportamentos sociais. Os autores chama-nos atenção quanto aos paradigmas da sociologia clássica Marxista e Werberiana, dizem que elas têm também um lado oculto da compreensão de estilos de vida.

3. Para melhor compreensão de pessoas com vida duplas

Segundo Madureira (1977), a dicotomia “meio rural” e “meio urbano” não faz sentido na actualidade, porque estes contextos comunicam-se entre si em diversos âmbitos, principalmente nas trocas comercias. Para este autor, quer as colectividades rurais quer as urbanas, tem uma diversidade e similaridades espaços, ainda este autor argumenta que não faz sentido diferenciar o “rural” e o “urbano” por causa do uso do território, porque o uso do território pode ser agrícola, conter traços de sociabilidade adjectivadas de rurais, sem torna-lo especificamente “rural”.

As comunidades rurais empreendem diferentes formas de apropriação dos componentes urbanos, em função de um conjunto de especificidade locais sejam elas de carácter sócio económicas, cultural e ambiental. Assim sendo as comunidades rurais passaram a ser vista como um universo que não é isolada, mas que carrega especificidades, buscadas através da historia, e acredita-se que a comunidade rural tem uma formação sócio histórica concreta. Sobre estes aspectos recorremos João Ferreira de Almeida, que argumenta a ideia de que:

As comunidades rurais são conflituais, heterogéneas, e desempenham certas funções «internas» específicas tendendo a preservar a coesão das colectividades rurais através da produção e reprodução da vida material e social nas suas múltiplas dimensões. Mas a compreensão dos processos sociais locais, dos conflitos e eventuais rupturas, exige igualmente que se tenham em conta certas outras funções genéricas «externas», com combinações, formas e ênfase diferentes conforme as modalidades de penetração e os períodos históricos (Almeida 1997: 797). 

Fredrik Barth (1969) recusa a possível dicotomia rural/urbano, para este as fronteiras são construções ideológicas e sociais, indivíduos diferentes convivem em mesmo espaço sendo possível identificar através de modos de vida, vestes, línguas e algumas atitudes, nesse sentido os indivíduos emigram por diversas razoes tais como ecológicas, politicas, económicas etc., que permitem observar a interacção entre urbano e rural vice-versa.

Contudo neste capítulo a segunda abordagem da discussão foi fundamental porque permitiu-nos desmistificar a dicotomia urbano/rural, micro/macro, neste sentido, ao analisar as comunidades rurais a leitura deverá congregar os diferentes processos históricos e olhar as dinâmicas sociais dentro das comunidades. Nesta linha de discussão o “rural” e o “urbano” não são mais vistas como realidades isoladas, mas como realidades que confrontam-se relacionalmente e cruzam-se nos seus desdobramentos através dos papéis desempenhados pelos indivíduos que algumas vezes tem vidas duplas Urbana e Rural como afirma O’Neiil & Mingione e Pugliese. 

1.7 Conclusão

As comunidades rurais inicialmente foram associadas, a culturas estáveis, homogéneas e primitivas e identificadas como conservadoras e auto-suficiente, porem a noção comunidades rurais como realidade concreta é uma construção histórica específica. Assim neste trabalho procurou-se fazer uma leitura sobre a discussão em torno de comunidades rurais.

Concluímos que as duas abordagens tem como suporte dados etnográficos que fundamentam as suas posições, mas apesar disto não consideramos estas comunidades como estáveis assim como a primeira abordagem as concebeu, dessas discussões nossos argumentos distanciam-se da primeira abordagem e relaciona-se mais com a segunda abordagem, porque ela nos permite dar uma melhor analise das colectividades rurais adoptando uma abordagem interdisciplinar com a sociologia, a história, antropologia das sociedades rurais e antropologia urbana. 

Na actualidade substitui-se as noções de comunidades rurais e urbanas por “ruralidade” e “urbanidade”, porque a ideia ruralidade se refere ao processo social, diz mais sobre o “mundo rural” no processo de transformação e faz referência não exactamente a um espaço ou a um modo de vida, porém as manifestações do rural. A novidade está em incluir o urbano no rural e vice-versa, tendo em mente de que um é pensado e construído a partir do outro. 

1.8 Referências bibliográficas

ALMEIDA, João Ferreira (1977). “Sobre a monografia rural” in Analise Social. Vol. XIII (52), 1977- 4, pp. 789-803.

BARTH, Fredrik. 1969. “Grupos Étnicos e suas Fronteiras”, in POUTIGNAT, Philippe & STREIF-FENART, Jocelyne (1997) Teorias da etnicidade. São Paulo: Editora UNESP

BOURDIEU, Pierre (1997) [1994]. “Espaço Social e Espaço Simbólico” in Bourdieu, Pierre (1997). Razões Práticas. Sobre a Teoria da Acção. Lisboa: Celta.

BRANDÃO, Maria de Fátima & FEIJÓ, Rui. (1984). “Entre Textos e Contextos: Os Estudos de Comunidade e as suas Fontes Históricas” in Análise Social, vol. XX, 83, pp. 489-503.

MADUREIRA, Pinto (1977). “A Etnologia e a Sociologia na Análise das Colectividades Rurais” in Análise Social, vol. XIII (52), pp. 808-828. 

Mingione & Pugliese (1987) A difícil Delimitação do «Urbano» e do «Rural»: Alguns Exemplos e Implicações Teóricas. In: Revista Critica de Ciências Sociais. Vol. 2. 1987. Pp. 83- 98 

O’NEILL, Brian. (1988). Entre a sociologia rural e antropologia: Repesando a «comunidade» camponesa. In: Analise social. Vol. XXIV (4-5), 1988, pp 1331-55

VICENT, Joan, 1987 (1977), “A sociedade agrária como fluxo organizacional: o processo de desenvolvimentos passados e presentes”, in FELDMAN-BIANCO, B., (org.), Antropologia das sociedades complexas. São Paulo, Global Editora, pp. 375-402

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