Trabalho elaborado pelo estudantes do curso de licenciatura em Antropologia da Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique) na disciplina de Antropologia do Simbólico.
Introdução
Neste breve trabalho pretendemos fazer uma discussão dos
textos de Marc Auge (1974), Sperber (1992) e Durant (1964). Nele temos como
objectivo produzir uma síntese das introduções das obras dos autores acima
referenciados de forma simples e reflexiva. Relativamente a estrutura do
trabalho apresentaremos os objectivos das obras dos autores numa primeira fase,
de seguida irei mostrar os argumentos deles e por último teremos a conclusão.
A obra de Auge
(1964) tem como objectivo mostrar as formas como construímos o Mundo a partir
das nossas crenças e do sistema da feitiçaria como a explicação do mundo real e
não como o reflexo deste interpreta-o, numa outra vertente o autor procura
mostrar a forca motriz da ideologia em todas as esferas da vida social, enquanto
Sperber (1992) trás como objectivo as discussões em torno das crenças, cosmologia
e faz uma profunda crítica a antropologia a maneira como ela produz e
interpreta os seus factos etnográficos e Durant (1964) tem como objectivo
mostrar os conceitos chaves do simbólico e explica como elas operam e articulam
com o mundo imaginário, numa outra fase o autor vem responder a desvalorização
do símbolo ou simbólico pelo ocidente mostrando as suas relevância.
Auge (1964) sistematiza a questão de como nós construímos
o mundo, partindo dos nossos pressupostos com a própria realidade. Mas para
compreendermos essa questão, ele parte dum ponto muito pertinente no texto,
onde vai embaraçar, também a questão da feitiçaria, como sendo um domínio na
sociedade. Entretanto, segundo o autor feitiçaria é um conjunto de crenças
estruturadas e partilhada por uma dada população acerca da origem da infelicidade,
da doença ou da morte. Por outras palavras, é um conjunto das práticas de
detecção, de terapia e de sanções que correspondem a estas crenças.
Neste contexto, as crenças na feitiçaria fazem parte
daquilo a que o autor designou " ideo-lógica ", como um elemento
essencial para o funcionamento da ideologia. Sendo assim, as crenças na
feitiçaria entram nesta configuração de conjunto, por outro lado, refere-se explicitamente
às representações da pessoa e do sistema social ou, porque completam estas
representações especificando a natureza dos poderes ofensivos e defensivos.
Porém, a feitiçaria é uma imagem na qual não conseguimos
ver com os nossos próprios olhos. Por outras palavras, é uma imaginação que nós
temos sobre uma determinada realidade, uma ideia que construímos para a própria
realidade e é intangível. Portanto, a ideologia esta ligado a este campo da
magia, em que o poder e a politica também encontram-se nesse plano.
Para Auge o simbólico esta interligado em todas as
esferas da vida social e cultural, dai que o poder político tem componente
simbólico nas sociedades como Tallense e Ashanti entre outras na África. Nesta
ordem de ideia os homens com tsav desempenham o papel de chefe nessas
sociedades tanto no sistema pré-colonial e no sistema inglês.
Sperber (1992) começa questionar-se o conceito da
antropologia e depois relata a cosmologia de Protágoras da construção do mundo
e dos seres nele existentes, depois o autor avança com a discussão do
surgimento da antropologia e nesse sentido o autor afirma que surge em primeiro
a antropologia filosófica que da origem a antropologia e a psicologia consideradas
com disciplinas empíricas por causa das suas aplicações, dum lado estava a
psicologia experimental e doutro lado a antropologia física e cultural mas com
o fundamento espiritista no trabalho de campo. Para o autor a antropologia
preocupa-se com os homens e o que eles são, enquanto a psicologia estuda as capacidades
metais humanas atraves das suas manifestações individuais, dai que com o
conceito da antropologia cultural Wundt fundador da psicologia experimental diz
que antropologia e sociologia dedica-se dos mesmo objectos de estudos com mesma
finalidades existindo assim uma ligação tão profunda entre elas, mas as duas
disciplinas afastaram-se uma da outra por causa dos seus pressupostos da ordem
teórica e metodológica.
Para o autor a ideia do trabalho de campo na antropologia
não remota a Malinowski, ela já tinha se consolidado antes da coincidente
passagem de Malinowski a Austrália, nesse sentido afirma o autor que os
primeiros antropólogos fizeram tão bem o trabalho de campo, participaram na
vida do nativo, conviveram com eles, aprenderam a língua local assim como
Malinowski, mas este trás uma inovação na forma como antropologia devia
produzir seu conhecimento, nesse sentido afirma o autor a questão da
delimitação do campo no espaço e tempo, e o tempo de permanência no campo.
Sperber levantas muitas criticas a Malinowski, onde o autor diz que, a
metodologia de Malinowski pressupõe estudar as sociedades dentro de um contexto
bem delimitado implicando ignorar os aspecto externos que fazem as sociedades
interligarem-se umas as outras, na mesma linha de pensamento as sociedades
humanas sapo concebidas como homogéneos se estudadas sobres aspectos internos.
Umas das fundamentais ponto da critica de Sperber esta no discurso que o
antropólogo toma na sua literatura após de muito tempo conviver com os nativos,
nesse sentido afirma o autor que as vezes torna-se uma confusão para perceber
de quem é o discurso ou seja, quem que esta a falar se é o etnógrafo ou o
nativo.
Durant (1964) começa por esclarecer que sempre houve uma
confusão e desvalorização na utilização dos termos relativos ao imaginário por
parte da civilização ocidental, nesse caso o autor fala de imagem. Signo,
alegoria, símbolo, emblema, parábola, mito, figura, ícone e ídolo. Para o autor
a consciência é uma das formas pela qual o ser uma faz uma representação do
mundo, e ela pode ser operacionalizada de duas maneiras que são: direita e indirecta,
nesta ordem de ideia na consciência direita a representação é mais afectiva,
isto é; sentimos no espírito a carne e osso o objecto ou a figura imaginada
simbolicamente, enquanto na indirecta a representação vem atraves do
imaginário, o objecto é imaginariamente representada na nossa consciência.
O autor define símbolo como uma pertença a categoria do
signo. Os signos é concebida como uma teoria de economizar operações metais,
isto é, os signos remetem a um significado que pode estar presente ou ser
verificado, dai que em vez de explicar teoricamente o significado de um
objecto, uma palavra, o conceito, é mais económico sinalizar ou atribuir um
signo, o autor mostra vários exemplos de siglas que representam um objecto
etc.,.
Em teoria distinguem-se dois tipos de signos, os signos
arbitrários que são puramente indicativos e remetem a uma realidade significada
a apresentável, e os signos alegóricos que remetem a uma realidade dificilmente
apresentável, e elas são obrigados a figurar concretamente uma parte da
realidade que significam. O símbolo é definido pela Lalande citado por autor
como qualquer signo concreto que evoca, atraves de uma relação natural, algo de
ausente ou impossível de perceber, e na mesma linha Jung citado pelo autor
define-a também como a melhor figura possível de uma coisa relativamente
desconhecida que não conseguimos designar inicialmente de uma maneira mais
clara e mais característica.
Godet citado por Durant, define e esclarece bem a
diferença entre símbolo e alegoria, nesta linha de pensamento, o símbolo é o inverso
da alegoria, ela parte duma figura para chegar a uma ideia abstracta, ela em si
já é uma figura, um signo, uma letra, um desenho etc., enquanto alegoria é um
vazio, que parte-se de uma ideia abstracta para algo concreto, neste caso pode
ser uma figura, um objecto etc. A imagem simbólica é a transfiguração de uma
representação concreta atraves de um sentido para sempre abstracto, e o símbolo
na óptica do autor é uma representação que faz aparecer um sentido secreto, é a
epifania de um mistério.
O autor citando Ricour diz que qualquer que seja um
símbolo autêntico, ela possui três dimensões concretas que são; cósmico,
onírica e poética. A primeira tem raiz figuração do mundo que nos rodeia, a
segunda tem raiz na lembrança, nos gestos que surgem dos nossos sonhos, e a
ultima tem raiz na linguagem e esta linguagem é mais concreta.
O símbolo tem uma outra componente que parte do invisível
para indizível, e faz dele um mundo de representações indirectas de signos
alegóricos. Num signo o significado é limitado e o significante mesmo ainda que
seja arbitrário é infinito, enquanto a alegoria traduz um significado finito
por um significante não menos delimitado. Dai a razão de o signo simbólico tem
vários sentidos, por exemplo o termo fogo desdobra-se em múltiplos significados.
Contudo, neste pequeno trabalho mostramos de forma clara
e simples as diferentes abordagens patentes nas introduções das obras dos
autores acima referenciados, neles encontramos pontos de intersecções na medida
em que eles digladiam sobre o conhecimento antropológico, e a questão das
cosmologias, representações e interpretações. Auge faz uma descrição das
cosmologia e ideologia, chegando até a puxar a demissão do politico em África
para mostrar que o simbólico tem configuração no politico em algumas sociedades,
enquanto Sperber faz um breve historia do surgimento da antropologia após de
ter passado pela cosmologia de Protágoras numa primeira fase, faz uma critica
ao Malinowski e a própria antropologia chegando a chamar o debate da compreensão
da comunidades estuda, o discurso que antropologia tem na questão das interpretações
para chamar o relativismo em discussão e Durant trás os conceitos chave do
simbólico e mostra como elas são operacionalizada, passando pela desvalorização
ocidental dos símbolos, signos, significantes, etc.
Referência bibliográfica
AUGÉ, Marc (1974) A Construção do Mundo, Lisboa,
Edições 70.
DURANT,
G. 1964. A imaginação simbólica.
Lisboa, edições 70
SPERBER, D. 1992. O
saber dos antropólogos. Lisboa: Edições 70.
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