quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Pureza e Perigo de Mary Douglas



Texto apresentado na disciplina de Antropologia do Simbolico, no curso de licenciatura em Antropologia na Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique) no ano de 2015.

Pureza e Perigo de Mary Douglas

No século XIX distinguiam-se as religiões primitivas das grandes religiões do mundo sob dois aspectos: em primeiro lugar, as religiões primitivas seriam inspiradas pelo medo; em segundo lugar, estariam inextricavelmente misturadas com as noções de impureza e de higiene. Nesta obra o autor, tenta demonstrar, que os rituais de pureza e de impureza dão uma certa unidade à nossa experiência. Longe de serem aberrações que afastam os fiéis do fim da religião são actos essencialmente religiosos. Por meio deles, as estruturas simbólicas são elaboradas e exibidas à luz do dia. No quadro destas estruturas, os elementos díspares são relacionados e as experiências díspares adquirem sentido.

As noções de poluição inserem-se na vida social a dois níveis: um largamente funcional, neste nível encontramos pessoas tentando influenciar o comportamento umas das outras; o outro expressivo a ordem ideal da sociedade é mantido graças aos perigos que ameaçam os transgressores, estas crenças são uma poderosa linguagem de exortação mútua, a este nível chamam-se as leis da natureza em socorro do código moral que sancionam.

A impureza nunca é um fenómeno único isolado. Onde houver impureza, há sistema. Ela é o subproduto de uma organização e de uma classificação da matéria, na medida em que ordenar pressupõe repelir os elementos não apropriados. Esta interpretação da impureza conduz-nos directamente ao domínio do simbólico. Pressentimos assim a existência de uma relação mais evidente com os sistemas simbólicos de pureza.
Exemplo: A impureza é uma ideia relativa. Estes sapatos não são impuros em si mesmos, mas é impuro pô-los sobre a mesa de jantar.

A impureza ritual

A nossa ideia de impuro é fruto do cuidado com a higiene e do respeito pela convenção que nos são próprios. Certamente que as nossas regras de higiene evoluem com os conhecimentos que adquirimos. Quer sejam observadas com rigor, quer violadas, não há nada nas nossas regras de pureza que sugira uma relação entre o impuro e o sagrado. Por isso nos sentimos confusos quando nos apercebemos que os povos primitivos não distinguem o sagrado do impuro. A nossa ideia do sagrado é especializada, enquanto em algumas culturas primitivas o sagrado é uma ideia muito geral que significa pouco mais do que proibição. É neste sentido que o universo se encontra dividido entre as coisas e as acções que estão sujeitas a restrições e aquelas que não o estão. As regras relativas ao sagrado destinam-se então a manter os deuses à distância e a impureza constitui, nos dois sentidos, um perigo: através dela o individuo pode entrar em contacto como o deus.
Exemplos de manifestações de respeito através da poluição, entre eles o do uso dos excrementos da vaca como agente de purificação. Nos cristãos as prescrições relativas ao sagrado ignoram as circunstâncias materiais e os crentes julgam os actos em função dos motivos e do estado de espírito do agente.

Quando Robertson Smith acrescentava que “distinguir o sagrado do impuro marca um verdadeiro avanço sobre a selvajaria”. Na mesma perspectiva Robertson Smith estava perfeitamente certo ao sublinhar que, ao longo da sua história, os cristãos tenderam para considerar o rito no aspecto mais formal, pelo prisma da sua eficácia. Mas, por duas vezes, as suas suposições evolucionistas induziram-no em erro. A prática mágica, no sentido de um rito de eficácia automática, não é um sinal de primitivismo e o contraste que ele próprio notava entre a religião dos apóstolos e a de um Catolicismo mais tardio deveria tê-lo esclarecido neste ponto. É igualmente falso que apenas as religiões evoluídas tenham um conteúdo altamente moral. Acerca dos objectivos da autora: em primeiro lugar, não esperaremos compreender o fenómeno religioso limitando-nos a estudar as crenças em seres espirituais, mesmo que refinemos esta fórmula. Em certos momentos da nossa pesquisa, necessitaremos talvez de examinar todas as crenças conhecidas noutros seres: fantasmas, antepassados, demónios e fadas. 

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