quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Breves conceitos da Antropologia para o estudo da Família e do Parentesco


Elaborado por: Hélder Luís

Texto elaborado na disciplina de Antropologia da Família e do Parentesco para "preparação de primeiro teste", no curso de licenciatura em Antropologia na Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique) no ano de 2015.

1. Parentescoé o conjunto de relações sociais que resultam da consanguinidade ou da aliança por casamento (colleyn, 1998).

2. As principais teorias que se debruçam sobre o parentesco, suas contribuições ou melhor as contribuições que cada uma delas trouxe a Antropologia e os seus principais pensadores são: Evolucionismo (Lewis Morgan), defende que o sistema do parentesco reflecte as formas de desenvolvimento das sociedades, mostrando a importância da terminologia no estudo do parentesco pois Morgan foi o primeiro a mostrar que havia relações entre os sistemas de parentesco e relações sociais tendo sido o pioneiro no uso do método comparativo onde comparou vários sistemas de parentesco de diferentes sociedades; Funcionalismo (Malinowski e Radclyffe-Brown), Malinowski foi contra as terminologias de Morgan e as especulações, instituído a etnografia ou observação participante, pai do trabalho de campo (saindo da comparação especulativa a busca de evidencia como funciona no terreno), Radclyffe Brown considera o parentesco um sistema de direito e obrigações, sublinha a importância de estudar o sistema de parentesco para conhecer outro sistema como económico, politico, religiosos etc. e introduz a noção de estrutura: a sociedade é constituída pelo elemento de estrutura desses elementos são as pessoas e as relações que se estabelecem entre si; e Estruturalismo (Claude Lévi-Strauss e Needman), assume o parentesco como um sistema social ordenado com coerência própria que permite compreender o comportamento humano, reconhecendo que as relações de parentesco são métodos da organização das relações entre grupos, e consideram que na análise do parentesco a questão mais importante é a aliança matrimonial, porque é ela que funda o parentesco e não a filiação contrariamente aos funcionalistas, trazem a questão do incesto / tabu do incesto que é proibição universal do casamento entre parentes sendo assi que através desse tabu que as sociedades passa da natureza a cultura.

3. A importância do estudo do parentesco reside no facto de quase todas as relações sociais terem como base o parentesco. Assim sendo é praticamente obrigatório para a compreensão da organização social a compreensão do parentesco. (Ghasarian, 1996). O parentesco é um factor de suma importância na sobrevivência do indivíduo, uma vez que necessita de construir grupos de cooperação e suporte, e estes são constituídos com base no parentesco. É através dele que os indivíduos compreendem o seu estatuto e identidade social, e assim compreendem o conjunto dos seus direitos e deveres. “Ao regulamentar os comportamentos, o parentesco regula a vida social” (Ghasarian, 1996). As sociedades vivem o parentesco de forma diferente, ou seja os laços de parentesco existem em todas as sociedades, mas cada uma tem a sua definição de consanguinidade e incesto.

4. Christian Ghasarian em sua obra Introdução ao Estudo do Parentesco refere que se o parentesco é crucial nas sociedades tradicionais, nem por isso o seu lugar nas sociedades industriais é negligenciável? – pois grande partes de legislações dessa sociedade relacionam-se com a família e com os direitos de sucessão e herança (que herda o quê de quem). Nas sociedades tradicionais concerne não só aos bens e as terras como também, aos títulos, deveres obrigações do casamento etc. e nas sociedades industriais ainda que não presida a organização social, o parentesco é importante pelo menos ao nível de sentimentos, por exemplo a satisfação assaz irracional sentida por aqueles que investigam a sua genealogia em profundidade, procura de primos muito afastado com os quais se reatam laços, etc. 

5. Porque se considera que o parentesco é antes de mais uma relação social que nunca coincide completamente com a consanguinidade, com o parentesco biológico? - Pois o parentesco demonstra que a consanguinidade não é o único meio de relação social mesmo o parentesco biológico, precisa de ser reconhecido socialmente para se determinar ou poder se efectivar a existência de um laço entre duas pessoas, mesmo o laço de sangue, precisa de ser reconhecido para ser validado no parentesco biológico. Os laços de parentesco são universalmente utilizados para definir as relações sociais mas as sociedades consideram e vivem o parentesco de forma diferentes, pois como alerta Ghassarian se o parentesco se resumisse a consanguinidade todos membros de uma sociedade restrita correria o risco de serem parentes 

6. Segundo Geffray o equívoco cometido pelo fundador dos estudos de parentesco (Lewis Morgan) é o equívoco terminológico que está no uso do vocabulário comum do sistema de parentesco ocidental para descrever o parentesco dos outros.

7. Geffray considera que na sociedade macua não há mãe, nem pai pois as denominações tio, tia permanecem conceptualmente construída a partir de (e em correspondência logica com) esta terminologia. 

8. O significado social e antropológico da prática do lobolo (compensação matrimonial) em Maputo, Granjo considera que a sua resiliência se deve simultaneamente ao seu papel no reconhecimento de uma relação matrimonial, na valorização do estatuto do casal, na regulação da descendência e na «domesticação do aleatório e dos perigos».

9. A filiação bilateral (dupla filiação) este tipo de filiação combina com as duas filiações patrilinear e matrilinear normalmente a filiação é reconhecida por ambos os lados mais com finalidade diferente. Filiação indiferenciada (cognática) ignora o sexo para transmissão de laços de parentesco, o sistema de filiação indiferenciado corresponde ao modelo de parentesco não distingue o parente paterno e materno. 

10. O autor de nem pai nem mãe denuncia, a partir de pesquisas realizadas no quadro da antropologia do parentesco, sem se entreter minimamente com contribuições que um ou outro autor foram elaborando a propósito desta mesma problemática. Para Geffray desde Morgan e incluindo Lévi-Strauss, toda a investigação antropológica esta contaminada pelo equívoco terminológico; Geffray explora o problema terminológico e da própria natureza de parentesco imprimindo-lhe os contornos para a sua principal partida de reflexão; com o trabalho feito por Geffray passa a entender-se que o pai é apenas um progenitor e o filho a sua progenitora, assim observador e observado situam-se o mesmo registo – o biológico – verdadeira determinação universal do parentesco.

03/05/2015

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