domingo, 13 de agosto de 2017

Fontes Teóricas de Radcliffe-Brown


KUPER, Adam. Antropólogos e Antropologia; tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro, F.Alves, 1978. (Ciências sociais)
RADCLIFFE-BROWN, Alfred Reginald, Estrutura e função na sociedade primitiva; trad. de Nathanael C.Caixeiro. Petrópolis, Vozes, 1973.

Radcliffe-Brown sofreu a influência das teorias sociológicas de Durkheim antes da I Guerra Mundial, e os anos produtivos de sua carreira foram dedicados à aplicação dessa teoria às descobertas dos etnógrafos; uma atividade que ele compartilhou durante a maior parte de sua vida com Mauss, sobrinho de Durkheim. [...] (pág. 52, 1º§).
Guiado por Rivers e Haddon, Brown realizou um estudo das Ilhas Andaman em 1906-8. [...] A sua monografia inicial sobre Andaman concentrou-se em problemas etnológicos e refletia as propensões difusionistas de Rivers. Entretanto, não tardou em converter-se à concepção durkheimiana de sociologia. (pág. 53, 2º§).
Um ensaio preliminar de Durkheim, que pronunciava o argumento de Les Formes Elémentaires de la Vie Religieuse, causou um impacto considerável na Inglaterra desse tempo. [...] Em 1909-10, Brown proferiu uma série de conferências na L.S.E. e em Cambridge, nas quais expôs o ponto de vista essencialmente durkheimiano que iria manter pelo resto da vida. (págs. 53 e 54, 3º§).
[...] Ao mesmo tempo, é possível avaliar o que a conversão oferecia: método científico, a convicção de que a vida social era ordenada de forma sistemática e suscetível de análise rigorosa, um certo desprendimento das paixões individuais [...] Tal quanto o anarquismo de Kropotkine, para o qual Brown fora atraído enquanto estudante, a sociologia de Durkheim continua uma visão essencialmente otimista da possibilidade de auto-realização do homem numa sociedade metodicamente ordenada; mas ao mesmo tempo, o socialismo de Durkheim minimizava a “guerra de classes”, e isso talvez tivesse atraído também a Brown. Em suma, a devoção de Brown às Ciências Naturais e o seu vago anarquismo utópico foram alimentados por um novo credo que era simultaneamente científico, humanitário, de uma forma maciça, e – muito importante – francês. O seu fanatismo fundamental ganhara agora um rumo definitivo. As paixões ulteriores, como pela filosofia chinesa, e as paixões anteriores, como pela cultura francesa, foram absorvidas por ele. Na década de 1920, os intelectuais britânicos tornaram-se pessimistas e místicos; na década de 1930, otimistas e comunistas. Brown nunca vacilou. (pág. 54, 1º§).
[...] Foi para o campo como etnólogo e seu objetivo inicial, refletido em seu primeiro relato, era reconstituir a história dos andamaneses e dos negritos em geral. Mais tarde, foi convertido ao ponto de vista durkheimiano de que o significado e a finalidade dos costumes devem ser entendidos em seu contexto contemporâneo; e foi isto que ele se propôs demonstrar no livro. (pág. 58, 2º§).
A sociologia de Durkheim foi a mais importante influência sobre o pensamento maduro de Radcliffe-Brown, mas ele também permaneceu um evolucionista na tradição de Spencer. As culturas (depois sociedades) eram como organismos e, portanto, devem ser estudadas pelos métodos das Ciências Naturais. Como organismos, evoluíram no sentido da crescente diversidade e complexidade. Neste sentido, a evolução distingue-se claramente do progresso, pois a evolução é um processo natural ao passo que o progresso implica em avaliação de um processo moral. (pág. 65, 1º§).
Mas eu exagerei a unidade do legado de Durkheim, já que podemos distinguir, pelo menos, duas correntes divergentes [...] Em primeiro lugar, havia o estudo das relações sociais, a “morfologia social” exemplificada em De la Division du Travail Social; e em segundo lugar, o estudo de sociedades como sistemas morais, o ponto de vista que domina Le Suicide e Les Formes Elémentaires de la Vie Religieuse [...] Ambas as abordagens podem ser encontradas na obra de Radcliffe-Brown e Mauss, sendo defensável a tese de que as suas perspectivas não são divergentes mas antes complementares. Contudo, Radcliffe-Brown dedicou-se mais ao estudo das relações sociais, enquanto que Mauss continuou desenvolvendo o estudo de noções cosmológicas. (pág. 67, 3º§).
A forma estrutural está explícita em “usos sociais”, ou normas sociais, os quais se reconhece geralmente como obrigatórios e são largamente observados. Portanto, esses usos sociais têm as características dos “fatos sociais” de Durkheim [...] (pág. 69, 3º§).
À semelhança de Durkheim, era ambivalente a respeito da Psicologia. Os fatos sociais não podiam ser explicados em termos de psicologia individual mas era possível que algumas formas de psicologia ajudassem à Sociologia. [...] Argumentou que a nova Sociologia deveria manter um relacionamento cauteloso mas cordial com a Psicologia. (pág. 81, 1º§).
[...] Radcliffe-Brown compartilhou sempre do ponto de vista de Durkheim e Roscoe Pound, um ponto de vista relacionado “não com as funções biológicas mas com as funções sociais, não com o ‘indivíduo’ biológico abstrato mas com ‘pessoas’ concretas de uma sociedade. Isso não pode expressar-se em termos de cultura. (pág. 82, 1º§).
[...] Tanto quanto sei, a primeira formulação sistemática aplicada ao estudo estritamente científico da sociedade foi a de Emile Durkheim, em 1895 (Règles de la Méthode Sociologique). (pág. 220, 1º§).
[...] A única recompensa que busquei, penso que em certo grau obtive: algo como uma penetração na natureza do mundo do qual somos parte, que só paciente aplicação do método das ciências naturais pode proporcionar.(pág. 251, 1º§).

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