Elaborado por: Hélder Luis
Introdução
O presente trabalho é
realizado no contexto da disciplina de Antropologia em Moçambique, que
constitui o procedimento de avaliação individual. Pretende-se neste trabalho
elaborar argumentos e responder questões sobre a obra Os Yao da autoria de
Yohanna
Barnabé Abdullah. O trabalho está estruturado de acordo com a hierarquia
estabelecida no guião de exercício.
Vida e Obra de Yohanna Abdallah
Yohanna Barnabé Abdallah foi pastor da Missão
de Unangu, foi educado sob influência da língua e cultura Yao, trabalhou na
actual província de Niassa (Arquivo Histórico de
Moçambique 1983).
Sobre a idade e data
de nascimento de Yohanna Barnabé Abdallah não há nenhuma informação. As fontes
missionárias e o próprio Abdallah até são divergentes a respeito de quem foi o
seu pai (Liesegang 1988: 16). A data de nascimento que é apresentada por
Liesegang (1988: 14) é de cerca de 1870.
Em 1887 Yohanna
decidiu enveredar pela carreira eclesiástica. A Missão (anglicana e britânica)
das Universidades na África Central (U.M.C.A.) (Liesegang 1988: 18-19).
Abdallah estudou
algum tempo em Kiungani, onde funcionava também uma espécie de colégio
teológico e, em 1893-1894, trabalhou ali como missionário. A sua área de
trabalho era o subúrbio de Ngambo, nos arredores da cidade de Zanzibar. Foi
escolhido porém para trabalhar numa missão do interior, na actual província de
Niassa, que tinha sido fundada em meados de 1893. Em 12 de Agosto de 1894,
pouco antes de partir, Abdallah foi ordenado diácono. Saiu de Zanzibar com uma
formação que devia corresponder a cerca de dez anos de ensino formal, falava e
escrevia fluentemente o inglês e também o swahili, e tinha conhecimentos de
grego e árabe, além do Yao que parece ter sido a língua da sua juventude. (Liesegang
1988: 19).
Assim sendo, Yohanna
Abdallah é autor de uma obra cujo título original, traduzido literalmente,
significa “os tempos antigos entre os Yao”, obra que foi impressa em 1919,
juntamente com a sua tradução inglesa, da autoria do médico Meredith Sanderson,
que também deve ser responsável pelo título inglês, mais curto, que é “The Yao”
(Os Yaos). A obra não foi editada pela imprensa da Missão Anglicana, mas pela
do Governo de Niassalândia, em Zomba (Liesegang 1988: 14).
Sobre a Escrita e a Estrutura de Os
Yaos
Nos finais do
século XIX foi um período em que os colonos procuravam delimitarem territórios
em África a partir da demarcação de fronteiras. Nesta coerência registava-se
assim um fluxo de penetração portuguesa e britânica em Moçambique. E com a
penetração administrativa portuguesa e britânica via-se que este aspecto podia
causar a destruição socioculturais das regiões (Arquivo Histórico de Moçambique 1983).
Olhando
especificamente para a sociedade Yao onde Abdallah viveu, essa penetração punha
em risco a sobrevivência dessas instituições socioculturais da sociedade Yao,
pois no século XIX alguns estados Yao tinham a sua importância económica e
política e a sua expansão territorial levou a que a sua influência cultural se
espalhasse para as regiões vizinhas
É importante dizer
que Yohanna Abdallah pertence a uma geração que recebeu toda ou parte da sua
educação antes da estruturação inicial do imperialismo colonial (ca 1891-1907).
Assim, talvez tenha visto a imposição do regime colonial como um processo
inevitável, mas nem todos concordaram depois com a transformação das relações
sociais que se seguiu (Liesegang 1988: 23-24).
A preocupação de Yohanna Abdallah nessa obra é de mostrar a
Historia dos tempos antigos e dos costumes dos Yao, relatando numa visão
etnocentrista, exaltando as glórias da etnia Yao e demonstrando, por vezes, um
certo desprezo pela cultura dos vizinhos. Pelo facto de naqueles tempos muitas
coisas estranhas ter sido introduzidas no nosso Pais e muitos estrangeiros se
ter vindo instalar entre nos (Arquivo
Histórico de Moçambique 1983).
Essa é uma das preocupações porque o autor escreve a história
da nação Yao, recordando os costumes dos nossos antepassados, como surgiu esta
nação e como foi o seu início. Porque a história que é relatada oralmente,
perde-se, pois o povo rapidamente o esquece, por isso que o autor optou em
escreve-la em forma de livro.
Liesegang sustenta
que no seu trabalho, Abdallah apresenta-se simplesmente como autor interessado
no passado, com conhecimentos e capacidade de escrever e documentar o assunto.
Não exterioriza qualquer moral cristã. Aliás, ele não terá sido o único pastor
africano a aceitar o passado pré-cristão tal como ele era, sem reinterpretações
excessivas (Liesegang 1988: 16).
As fontes de informação por Yohanna Abdallah são tratadas de forma especial, na sua escrita etnográfica a voz do
nativo está em primeiro lugar, o pesquisador não tem o direito de subsumir na
escrita, e da primazia as suas fontes de informação. No prefácio da sua obra o
autor faz uma descrição dos seus informantes chaves, pois foram eles que lhe
fizeram relembrar algumas coisas e contaram muitas outras.
A informação
sobre os Yao foi recolhida a partir do contacto que Abdallah tinha com vários
velhos que ele conhecia, dentre eles, chefes, anciãos e alguns amigos, estes
foram informantes que lhe deram a informação sobre os Yao (Arquivo Histórico de Moçambique 1983).
Alpers sublinha que
Abdallah se dirigiu principalmente aos Yao, para os quais queria escrever uma
história nacional, e que ali se documenta uma certa viragem na sua
personalidade, que se demarca da anterior integração no mundo europeu. Mas,
como se verá, Abdallah nunca deixou de ter orgulho no que toca à sua origem
social e mantinha certas tradições africanas, deslocando-se, por exemplo, com
mais pessoas do que aquelas que um missionário britânico teria considerado
necessário (Liesegang 1988: 16).
A obra está
dividida em quatro (4) partes: a primeira Abdallah olha as questões sobre a
origem dos Yao; o grupo está dividido em diversas áreas; ocupações dos tempos
antigos pratica da agricultura, caça, pesca, fabricavam tecidos de casca de
arvore, enxadas, eram bons ferreiros, faziam construções; costume; cortesia;
hospitalidade; danças e cerimónias de iniciação, as brincadeiras das crianças;
os funerais; tabus e oferendas; as forjas chisis e casamentos (Arquivo Histórico de Moçambique 1983).
Na segunda
parte Abdallah fala sobre o início do comércio; a viagem até a costa; início do
comércio de marfim e escravos; a grande fome e o rebentar da guerra; a
dispersão dos masaninga e a família makanjila (idem).
A terceira
parte aborda sobre a família makanjila; a guerra do makanjila contra os
europeus e a história do clã makanjila. E na última fala do surgimento da Dinastia
Mataka da linhagem chisyungule (idem).
Alteia ainda as especificidades culturais no interior da própria etnia
Yao, quanto à organização do trabalho, ao modo de viver, ao comportamento, ao
julgamento de questões e em outros aspectos. E analisou
de forma detalhada os aspectos socioculturais da sociedade Yao.
O Legado da Obra de Yohanna Abdallah
A obra de Yohanna Abdallah os Yao, para que nos é hoje, testemunho
valioso param a história desta etnia e da sua resistência, numa época em que,
em Moçambique, muitos outros grupos resistiam, economicamente, a penetração
Europeia. E pelo facto da obra de Abdallah ser a única fonte histórica escrita
em Yao.
Para antropologia a obra de os Yao deixou uma rica informação acerca dos
Yaos, que é um volume único de informação histórica e etnográfica sobre os
povos de fala Yao do norte de Moçambique, do sul do Malawi e do sul da
Tanzânia. Não só é notável por ser a única compilação sobre o Yao, uma das
pessoas mais importantes na história da África Oriental dos séculos XVIII e XIX,
mas também representa um dos primeiros esforços escritos do leste africano na
escrita de africanos história (Arquivo
Histórico de Moçambique 1983).
Referências Bibliográficas
Abdallah, Yohanna B.
1983 [1919] Os Yao. Maputo: Arquivo Histórico de Moçambique – Universidade
Eduardo Mondlane.
Abdallah, Yohanna B.
1983. “Os Yao”. Introdução e notas, Maputo: Arquivo Histórico de Moçambique,
pp. 1-103.
Liesegang, Gerhard.
1988 “Achegas para o estudo das biografias de autores de fontes narrativas e
outros documentos da história de Moçambique, I: Yohana Barnaba Abdallah (ca.
1870-1924) e a Missão de Unango” ARQUIVO 3: 12-34.
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